terça-feira, 1 de maio de 2012
A intolerância religiosa, por Drauzio Varella.
O fervor religioso é uma arma assustadora, disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso
SOU ATEU e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.
A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno
transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem
necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são
tão poucos que parecem extraterrestres.
Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável
na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o
destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do
coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do
inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos
eternos, caso único entre os seres vivos.
Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que
sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o
imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais.
Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências
mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado,
para eles a vida eterna não faz sentido.
Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente
porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a
crer leva outro a desacreditar.
Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode
discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus
quando confrontados com crenças alheias.
Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante
da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para
Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o
Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?
Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de
falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na
encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando
encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria
dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há
milhares, mas um único Deus?
Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não
admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de
hereges ou infiéis perderam a vida?
O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante
obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que
os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e
atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade,
compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a
Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.
Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são
tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a
bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque
obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados
mensageiros de Satanás.
Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos
quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas,
não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo
recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem,
mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como
demonstraram os etologistas.
O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar
contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a
sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos
massacres.
Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios
morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito
que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a
mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas
contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne
intolerante, autoritária ou violenta.
Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos,
superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por
suas ações, não pelas convicções que apregoam.
(Folha de SP, 21/04/12)
Milagreiro Valdemiro procurou um hospital para curar seu joelho.
A informação é do Globo de hoje, mas um dia depois da operação um leitor anônimo postou neste blog que na rua Carneiro Leão, onde fica a sede da Mundial, em São Paulo, já corria a notícia da intervenção no joelho de Valdemiro.
“Você [Valdemiro] cura portadores do vírus da Aids, mas não consegue curar o seu próprio joelho”, escreveu o leitor.
Para não ser acusado do crime de charlatanismo, Valdemiro afirma constantemente que quem cura não é ele, mas Deus. O “ungido”, conforme dizem seus fiéis, além de viabilizar a cura de Aids, faz paralítico andar, cego enxergar, pessoa com câncer terminal ficar boa, defunto levantar, etc. Em dois ou três programas na TV, Valdemiro faz mais milagres do que Jesus em toda a Bíblia.
Recentemente, em um dos seus programas, provavelmente antes da operação de seu joelho, Valdemiro disse que o “médico é importante, mas quem dá a última palavra é Deus”.
Em seu caso, contudo, quem deu a última palavra foi um dos dois melhores hospitais do Brasil (ou outro é o Sírio Libanês), com excelentes equipes médicas e equipamentos de tecnologia avançada. É também um dos hospitais mais caros.
A Mundial, com 4.500 templos, é a igreja pentecostal que mais tem crescido no Brasil graças aos “milagres” de Valdemiro. O Globo, na reportagem de hoje, diz que a construção de um templo para 150 mil fiéis pela Mundial mostra que a denominação ameaça a hegemonia da Igreja Universal, que possui cerca de 5.000 templos.
O jornal informou que Valdemiro mora em um condomínio de luxo em Alphaville, na região da Grande São Paulo e perto da rodovia Castelo Branco. Ali, os congestionamentos de trânsito se agravaram neste ano, mas isso não é problema para Valdemiro. Ele tem um helicóptero. Para viagens longas, usa um avião.
Valdemiro tem vida de milionário, mas disse recentemente que isso não se deve à Mundial. “Hoje, tenho o fogão que quiser. Como o que quiser, moro onde quiser, mas não dependo dez centavos da igreja, nenhuma moeda da igreja.” Com a sua mulher, a Francileia, 46, e outro sócio, ele é dono de uma empresa de comunicação e de uma gravadora de CDs.
Além da abundância de milagres que diz proporcionar, o seu diferencial em relação a Edir Macedo, o chefe da Universal, é a criatividade para arrecadar dízimo.
Ele já inventou do trízimo (10% para o Pai, 10% para o Filho e 10% para o Espírito Santo). Na loja de sua igreja, já houve meias ungidas vendidas a R$ 153 o par, martelinho sagrado de R$ 1.000, entre outras enganações respaldadas pela Constituição que garante ao brasileiro a liberdade de acreditar no que quiser. E é o que tem sido uma brecha para charlatães.
(texto de Paulo Lopes)
terça-feira, 27 de março de 2012
a biblia e seus brilhantes concelhos
POR QUE SOMOS RELIGIOSOS & ACREDITAMOS EM DEUS?
Todos nós somos ateus ou infiéis, inclusive você.
Se você não acredita no conceito da existência de um deus de outra
cultura, por exemplo: deuses indígenas, orientais ou antigos deuses
perdidos na história, certamente você será considerado ateu ou infiel,
independente de sua crença.
Por que somos religiosos? Por que há tantos deuses?
Em qual você deve acreditar? Por que você deveria acreditar? Por que
temos fé? Por que queremos endeusar alguém? Por que alguns querem
assumir a liderança como um deus? Por que tememos deus? Você concluirá
que sua crença sempre será fundamentada na época e na cultura que você
está submetido, bem como ter fé e seguir uma religião é um sentimento
biológico de seres que vivem em grupo.
A religiosidade é um comportamento inerente ao ser
humano. É instintivo e transmitido de geração a geração independente da
cultura regional. Acredito que com o aprofundamento de pesquisas
genéticas chegaremos a confirmar a associação desse comportamento a um
gene específico do DNA humano. A religiosidade remonta aos primórdios do
surgimento do ser humano social quando o grupo necessitava de um líder
forte para garantir a sobrevivência e perpetuação da espécie, por meio
de um instinto básico de organização.
Tal comportamento pode ser observado em animais que
vivem em grupo: lobos, leões, chimpanzés, etc. Então o animal humano
não poderia ser diferente. O líder normalmente é o membro mais forte. Os
demais permanecem submissos frente à liderança.
O membro alfa, o líder ou o pai ficava no poder até
ser destituído por outro com melhores condições de perpetuação da
espécie e proteção do grupo. A disputa muitas vezes era seguida de luta e
acarretava a morte do antigo líder. As armas empregadas na disputa para
a maioria das espécies eram seus dentes e garras, consequentemente o
ferimento se assemelhava àquele produzido no abate para alimentação. A
conclusão da disputa induz a um princípio de canibalismo.
No caso do ser humano, mesmo após um longo período
de desenvolvimento da espécie, a destituição do líder com consequentes
resquícios de canibalismo e cerimoniais de sacrifícios ainda podem ser
observados. Algo semelhante com a expressão conhecida: “esse pão é a
minha carne e esse vinho é meu sangue”, empregado nos rituais da
religião cristã.
Pode-se observar em alguns animais como os
chimpanzés rituais representativos da destituição do líder quando o
bando caça e mata sistematicamente um membro de outra espécie de macaco.
Esse comportamento nos indica um processo instintivo que mesmo sem
necessidade de trocar efetivamente o líder, o bando mantém um ritual
metódico.
Ainda no caso dos chimpanzés, a carne do macaco
capturado no ritual é distribuída para todos os membros do grupo,
incluindo as fêmeas e os filhotes. O ritual é notadamente
descaracterizado de necessidades alimentares. Esse comportamento parece
indicar uma forma de dividir a culpa pela destituição do líder. Assim, a
nova liderança seria estabelecida com consentimento do grupo
assegurando sua organização e sobrevivência.
A vida em grupo gera características de
comportamentos sociais que são transmitidas de geração a geração
assemelhando-se a características hereditárias. Tabus são criados e
seguidos como princípio básico de legislação do grupo. Uma minoria mais
forte se sobressai para que o grupo tenha uma organização coordenada. Os
demais são condicionados naturalmente a aceitar a liderança. Esse
condicionamento é o princípio do que entendemos como “fé”.
Submetido às perversidades da natureza, o ser
humano sentia a necessidade de se proteger frente a seus medos,
fraquezas, erros, limitações e falta de conhecimento. Uma liderança
forte e naturalmente aceita como a de um pai se fazia necessária. Mas o
pai físico não era eterno. Ele era normal e também sucumbia à natureza. À
medida que a população foi aumentando, ficava cada vez mais difícil
disponibilizar uma liderança física única e eficaz.
O ser humano precisava então de um pai que não
errasse; que estivesse sempre disponível; que não morresse; que
concedesse privilégios; que soubesse de tudo; que sempre perdoasse; que
fosse único e atendesse a todos globalmente. Ou seja, o ser humano
precisava de um pai perfeito que não existia fisicamente. Daí a
concepção de um ser espiritual, inicialmente concebido como um símbolo
do desconhecido ou totens, evoluindo até a idéia de uma figura meramente
humana denominada deus. Deus é uma necessidade instintiva e ilusória. É
uma criação conceitual do ser humano e não uma entidade real. O
conceito existe em todas as sociedades de seres humanos, sejam elas
ocidentais, orientais, ou isoladas em tribos primitivas.
A concepção natural da religiosidade e a criação do conceito de deus são causadas por:
- Instinto de organização grupal.
- Sofrimento natural e social.
- Necessidade de se proteger frente aos medos, fraquezas, erros, limitações e falta de conhecimento.
- Necessidades e desejos além da capacidade individual.
- Necessidade de perdão aos desvios de conduta moral.
- Medo da morte.
- Incapacidade de planejar a própria vida.
Ao longo do processo evolutivo, a civilização
passou a ter mais conhecimento sobre questões até então incompreendidas
tratando-as de forma mais consciente e menos mística por meio de regras
sociais estabelecidas em leis e administradas pelo novo líder: o estado.
Contudo, o estado não teve e nem tem atualmente interesse em modernizar
o comportamento religioso, preservando a fé, ou melhor, a submissão,
conseguindo com isso controlar a população. As questões interpretadas
como além do conhecimento continuam cedendo espaço para continuidade do
comportamento religioso hereditário seguindo o mesmo princípio dos
antepassados, porém de forma simbólica representada por “estórias”
referentes ao relacionamento de antigos líderes e seus fiéis
seguidores. Conceitos e dogmas são estabelecidos em escrituras e
recitações atribuídas como sagradas. Nesses registros, continua-se
observando o mesmo padrão de comportamento entre o líder e seu grupo:
rituais de sacrifício, formulação de tabus, ressentimento pela
destituição ou morte do líder e a submissão do grupo representada pelo
sentimento de fé. Cada seita, ou cada seguidor formula seu próprio
conceito.
No caso da religião monoteísta ocidental, a conceituação de existência
atribuída a “deus” é incoerente. Os principais atributos de deus como
onipotência, onisciência, onipresença e benevolência, indicando que tudo
foi criado por ele e que ele é a causa primordial, leva a crer que deus
seja a perfeição. Sendo assim, não faz sentido haver falhas em seu
processo ou em suas criaturas. Mas as falhas existem.
Seguem algumas falhas observáveis mesmo no pequeno âmbito do conhecimento humano:
· O
sofrimento de suas criaturas não poderia existir: morte acidental ou
natural, envelhecimento, doenças, fome, purgatório, inferno, etc.
· O
mal natural não poderia existir: cataclismo, criatura que come as
outras (animal ou vegetal), incidentes prejudiciais a quaisquer seres,
etc.
· O
mal social não poderia existir: escravização, ambição, ganância,
brigas, assassinatos, estupro, roubo, discriminação, quaisquer atitudes e
sentimentos que afetem a integridade física ou moral de outros seres,
etc.
· A prestação de contas de suas criaturas não poderia existir: temer o criador, pagar dízimos, implorar perdão, etc.
· Necessidades e desejos não poderiam existir: cobiça, inveja, vontade, orações solicitando favores.
· Qualquer forma de evolução não poderia existir. A evolução não é coerente com a perfeição. As criaturas seriam perfeitas.
Não haveria mutações para adaptação ao meio ambiente. Não haveria
combinação genética para aperfeiçoamento dos seres; etc.
Todas essas falhas não poderiam existir. Como
existem, significa que a vida segue uma linha de evolução e seleção
natural, conduzida sem interferência divina. A vida surgiu e segue suas
próprias leis naturais ao acaso, indiferente à presença de um projetista
criador.
Para tentar resolver a questão das “falhas”, os
religiosos apresentam justificativas obviamente baseadas em suposições
dentro do ponto de vista de um ser humano. A argumentação recai na
atribuição de atitudes humanas a deus como: julgar, legislar, executar,
punir, beneficiar e brincar com suas criaturas, em especial, com os
humanos. São atitudes exclusivamente humanas concebidas dentro do nosso
limite de interpretação sem fundamentação convincente. Sendo assim, foi o
homem religioso que criou “um conceito de deus” a sua imagem e semelhança, esquecendo totalmente de outras formas de vida.
A necessidade de ter uma causa primordial ou um
criador de tudo, incluindo o universo, não pode ser considerada uma
argumentação válida para justificar a existência de deus. Além de
matéria e energia, o universo possui a entidade “tempo”. Antes da
existência do universo consequentemente o tempo não existia, sendo assim
não há como existir um antes ou depois para projetar ou criar alguma
coisa. Não há como existir causa/efeito. Dessa forma, não há como
existir um deus (causa) com objetivo de criação do universo (efeito). O
universo, o tempo e as leis naturais seguem seu curso sem uma causa ou
necessidade de um criador, caso contrário o próprio criador deveria
também ser submetido a uma causa/efeito antecedente. Apesar de tudo, se
considerarmos que a própria existência do universo seja uma
justificativa para que tenha havido alguma causa, essa estará muito
longe de qualquer pretensão humana.
Concebido como conceito
e não se enquadrando como entidade real ou fato observável, a
metodologia científica de observação de fatos, questionamentos de causa /
efeito, formulação de hipóteses, comprovação filosófica e histórica
resulta na NÃO EXISTÊNCIA de deus.
Contudo, o conceito de deus existe,
embora a partir de argumentos falsos. Porém é um conceito bem
interessante para ser aplicado visando “outros objetivos”. Alguns
oportunistas descobriram que a religiosidade poderia ser sistematizada
gerando riqueza e poder para os mesmos, bem como servir de ferramenta
para subjugar os membros de seu grupo, facilitando a imposição dos
governantes.
Surgiram então as religiões dogmáticas
institucionalizadas. Os dogmas são redigidos em livros ditos “sagrados”
como a bíblia, tora ou alcorão formatando um sistema de conduta
obrigatória baseado em tabus, fábulas e mitos, e quase nunca, em fatos. O
conteúdo desses livros em si serve como prova incontestável dos
conceitos de cada religião. A maioria dos seguidores acredita que neles
se encontra a verdade absoluta para explicar a totalidade de suas vidas
sem ser necessário questionar a lógica ou veracidade histórica. Porém,
com a evolução da ciência, a interpretação literal desses livros evolui
proporcionalmente, mas o instinto religioso ainda permanece.
Os judeus favorecidos que seguiam o judaísmo
afirmavam que eles eram os únicos escolhidos por deus. Converter-se ao
judaísmo não era fácil. Além da etnia necessária, poucos conseguiam se
submeter aos dogmas de uma religião tão elitizada. Outros oportunistas
aproveitaram a citação das escrituras sagradas dos judeus sobre um
messias que viria nos salvar de mais um pecado genérico cometido pela
humanidade. A partir daí, inventaram novas seitas como o cristianismo e
islamismo, criando uma oportunidade para que os judeus de classes menos
favorecidas, dissidentes e nãos judeus também entrassem no desejado
reino do céu. Essas novas seitas encontraram um ambiente altamente
favorável para uma rápida proliferação. O público-alvo era muito mais
numeroso que a classe elitizada dos judeus, e por ser uma classe menos
privilegiada com menos conhecimento, eram mais propensos a aceitarem
quaisquer dogmas sem buscarem a comprovação de fatos.
Surgiram em seguida as consequências do competitivo
mercado das religiões: cruzadas, guerras santas, inquisição,
terrorismo, discriminação étnica religiosa, etc.
Focando o caso do Cristianismo, Jesus o Cristo, foi definido como o messias.
A base da concepção religiosa segue o mesmo princípio psíquico
instintivo: necessidade de um líder não físico e total submissão do
grupo. Muitas pessoas se proclamaram ou foram proclamadas messias na
época. O mais famoso seria aquele que representasse a perfeição. Dessa
forma não seria físico, mas sim uma vontade imaginária de um líder
perfeito. A concepção de sua destituição por morte, o senso de culpa
gerado e o respeito pela memória do líder criaria um vínculo instintivo
natural perfeito nos seguidores. Com a possibilidade de concessão de
milagres e vida após a morte, qualquer um que ouvisse a estória seria
convertido num fiel seguidor.
A propagação da estória foi muito rápida e
convincente. Servia a vários propósitos tanto pessoais como ferramenta
para o estado organizar e controlar a população. Esse é o motivo pelo
qual o cristianismo tornou-se uma instituição tão forte.
Propósitos do cristianismo:
· Assegurar
uma ligação egoísta entre seres humanos e sua semelhança com deus.
Jesus, o filho de deus, seria a comprovação de uma interface entre deus e
os humanos.
· Sucumbir
o medo da morte. A estória da ressurreição de Jesus preenche a
esperança humana de vida após a morte e reencontro com os entes mortos
queridos.
· Proporcionar
uma ilusão de realização de vida. Até mesmo os pobres, os fracos e os
oprimidos têm um lugar garantido no paraíso, desde que sejam seguidores
da religião.
· Proporcionar uma facilidade de superar dificuldades e necessidades por meio de milagres.
· Submissão
total dos crentes devido ao pecado de matar o suposto filho de Deus.
Seguindo o mesmo princípio pecado original de Adão e Eva. Povo submisso,
presta os serviços necessários, paga mais impostos, luta nas guerras e
não se rebela.
As instituições religiosas tiveram seu valor no
desenvolvimento humano em uma época passada. Elas podem evoluir quando
fizerem as pazes com a ciência e se desligarem totalmente do estado. Na
ocasião, as escrituras sagradas precisavam tentar explicar aspectos além
da religiosidade sem contar com recursos tecnológicos e descobertas
científicas hoje disponíveis. As normas de conduta social serviram de
base para a organização social quando os estados ainda não estavam bem
definidos com uma legislação humanitária.
Atualmente, o conteúdo extrarreligioso dessas
escrituras encontra-se totalmente defasado e contraditório. O instinto
básico de organização grupal está consolidado em leis da constituição de
cada nação. As regras são claras, democráticas e dotadas de líderes
capazes de administrá-las. Todos os fenômenos perceptíveis possuem
explicação científica e são difundidos para toda população.
Uma nova redação, ou uma nova “reforma”, poderia
acabar com as questões polêmicas que geram tanto descrédito para as
instituições religiosas como o criacionismo e o fundamentalismo
arraigado à política de estado. Apesar de ser difícil modificar nossos
comportamentos instintivos, com esclarecimentos racionais, um processo
evolutivo poderia ser desencadeado e uma nova missão para a religião
poderia ser traçada visando exclusivamente o bem-estar social, a
liberdade, o relacionamento harmonioso e o desenvolvimento do ser
humano. Seria um processo natural, sem medo, sem repressões psicológicas
que consequentemente seria seguido por toda humanidade sem competições
nem restrições à liberdade. Seria uma RELIGIÃO MODERNA CLASSE MUNDIAL.
A busca pelo espiritual ou qualquer outra forma de
manifestação extrafísica vai convergir os resultados a uma conclusão
interessante: raciocínio e conhecimento. Essa é única forma que temos de
ir além de nosso corpo alcançando aquilo que conceituamos como espírito
e alma.
Consequentemente se você possuir acesso a informações e liberdade de pensamento,
apesar da sua religiosidade instintiva, a fé cega em religiões
dogmáticas e a idéia de deus conceitual serão sucumbidas. O conhecimento
é citado na religião ocidental atual como o maior inimigo da fé. Ter fé
significa: “total submissão sem questionamentos”. Conforme Sócrates
concluiu: “Uma vida sem questionamentos não vale a pena ser vivida”.
Infelizmente, ao abrirmos mãos desse nosso direito, estaremos perdendo:
ü A admiração pela vida real e natural;
ü A contemplação e o fascínio de nossa percepção e nossos sentimentos;
ü A capacidade de impedir o mal;
ü O
prazer do sucesso em encontrar soluções para os problemas e desafios em
busca do bem, do racional, da consciência, da perfeição e
autorrealiazação;
ü Enfim, a essência da própria vida.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Ø A Bíblia Sagrada – Antigo e Novo testamento.
Ø Alcorão Sagrado.
Ø Alex Key – The third basic instinct.
Ø Alfredo Bernacchi – Jesus nunca existiu; A Bíblia do Ateu; Ateu Graças a Deus.
Ø Augusto Pasquoto – Deus no século XXI.
Ø Bart Ehrman – O problema com deus; Quem Jesus foi e quem Jesus não foi.
Ø Bertrand Russel – Ensaios céticos; No que acredito; Porque não sou cristão.
Ø Bud – And man created god in his own image.
Ø Carl Sagan – Variedades da experiência científica.
Ø Chris Impey – Universo Vivo.
Ø Christopher Hitchens – God is not great; The portable atheist.
Ø Clifford Geertz – The Interpretation Of Cultures; Anthropological Reflections on Philosophical Topics
Ø Daniel Denett – Quebrando o encanto; Brainstorms; Tipos de mentes.
Ø Daniel Pals – Seven Theories of Religion.
Ø Darwin – Origem das Espécies.
Ø David Hume – Diálogos sobre religião natural.
Ø Desmond Morris – O Macaco Nu.
Ø Émile Durkheim – The Elementary Forms of Religious Life
Ø Edward Burnett Tylor – Primitive Culture.
Ø Evans-Pritchard – Theories of Primitive Religion.
Ø Friedrich Engels – Karl Marx – On Religion.
Ø G.M.Jackson – How to prove god does not exist.
Ø Gaarder / Hellern – O livro das religiões.
Ø Greg Vanden Berge – Did Jesus really exist?
Ø Guy Harrison – 50 Reasons people give for believing in a god.
Ø Hans Kung – O princípio de todas as coisas.
Ø Ian Stewart – Será que deus joga dados?
Ø John Bowker – Deus uma breve história.
Ø John Hayward – The book of religions.
Ø Jonathan Hill – As grandes questões sobre a fé.
Ø Jorge Blaschke – Além de Osho.
Ø José Menezes – Religião: surgimento e legitimação.
Ø Karl Kautsky – Origens do Cristianismo.
Ø Kenneth Humphreys – Jesus never existed.
Ø Lou Marinoff – Pergunte a Platão; Mais Platão menos Prozac; Caminho do Meio.
Ø Luc Ferry – Aprendendo a Viver; Depois da Religião; Tentação do cristianismo.
Ø Marcelo Gleiser – Criação Imperfeita.
Ø Max Weber – Sociology of Religion.
Ø Michel Onfray – Tratado de Ateologia.
Ø Mircea Eliade – O Sagrado e o Profano – A Essência das Religiões; Origens – História e Sentido na Religião.
Ø Morris / Maisto – Introdução à psicologia.
Ø Nicholas Wade – The faith instinct.
Ø Nietzsche – Assim falou Zaratustra; Para além do bem e do mal; O anticristo.
Ø O livro de ouro da Psicanálise – Ediouro.
Ø Osho – Religiosidade é diferente de religião; Deus que nunca existiu; Coleção DVD.
Ø Paolo D’Arcais – Deus existe?
Ø Pedro Marangoni – O infinito não tem pressa.
Ø R.D.Hood – Science is a religion.
Ø Richard Dawkins – O Relojoeiro Cego; O Gene Egoísta; Deus um delírio; O capelão do diabo; O maior espetáculo da terra.
Ø Robert Wright – O animal moral.
Ø Rodney Stark / William Bainbridge – Uma teoria da religião.
Ø Rubem Alves – Coleção completa DVD filosofia de vida.
Ø Rudolf Otto – Naturalism And Religion
Ø Sam Harris – A morte da fé; Letter to christian nation; Lying.
Ø Sam Parnia – O que acontece quando morremos?
Ø Santiago Camacho – Biografia não autorizada do Vaticano.
Ø Seneca – Sobre a brevidade da vida.
Ø Sigmund Freud – Totem e o Tabu; Moisés e o Monoteísmo; O futuro de uma ilusão e o Mal estar da Civilização.
Ø Sir James George Frazer – O Ramo de Ouro.
Ø Stephen Hawking – The Grand Design; A brief history of time; The illustrated theory of everything.
Ø Stephen Law – Filosofia.
Ø Steven Pinker – Tábula Rasa.
Ø Tripicchio – Teorias da Mente.
Ø Valdemar Angerami – Psicologia e religião.
Ø William Arntz / Betsy Chasse – Quem somos nós.
Ø William James – Varieties of Religious Experience; The will to believe; Meaning of truth.
quinta-feira, 15 de março de 2012
Cientista afirma ter encontrado sinais de vida extraterrestre em meteorito
Artigo passará por revisão de 100 especialistas e mais de 5.000 cientistas

O anúncio cria expectativa na comunidade científica porque Hoover é um bem reputado cientista da Nasa e trabalha há muitos anos analisando material contido em meteoritos. Ele estudou fragmentos de vários tipos de meteoritos condritos carbonáceos, que podem conter níveis importantes de água e material orgânico. Nos fragmentos ele alega ter encontrado formas com aspecto de bactéria, que acredita terem se originado fora da Terra e não após a queda do meteorito no planeta.
Journal of cosmology

Prima do E.T: a bactéria Titanospirillum velox, que pode viver em ambientes hostis à vida
"Estas bactérias fossilizadas não são contaminantes terrestres (bactérias terrestres que possam ter contaminado o meteorito). São restos fossilizados de organismos vivos que existiram em corpos celestes similares aos deste meteoro, como cometas e luas", afirmou Hoover.
Confirmação - Estudos afirmando que os meteoritos podem conter micróbios extraterrestres não são novos e já despertaram grandes debates sobre como poderia existir vida no espaço e como e onde a vida poderia ter se originado no universo. Vários outros meteoritos encontrados pela Nasa continham traços do que poderia ser vida extraterrestre, mas nunca houve confirmação. Em dezembro do ano passado, a Nasa anunciou a descoberta de uma bactéria terrestre que se comporta como extraterrestre.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
AS FALHAS DA CRIAÇÃO DIVINA
A TERRA ANTES DO SOL
Por que deus fez a Terra primeiro e só
fez o Sol no dia seguinte? (Gênesis, 1: 9-16)
Porque os criadores de deus não sabiam que a Terra não é o centro do universo.
Porque os criadores de deus não sabiam que a Terra não é o centro do universo.
O escriba que fez o primeiro capítulo
do Gênesis disse que Yavé formou a Terra no terceiro dia da criação, e só no
quarto dia criou o Sol, a Lua, e depois as estrelas. Um planeta que
gira em torno de uma estrela não poderia ter sido feito antes dela. Mas,
como disse um antigo cristão, tudo é possível para aquele que crê. Para os
hebreus, a Terra era o centro do universo. Assim, seu deus teria criado primeiro
a Terra, e depois o Sol e a Lua, os "dois grandes luminares" para iluminar a
Terra. Por incrível que pareça, hoje quando sabemos que isso é um engano,
ainda há bilhões de pessoas que aceitam cegamente esse conto como verdade.
OS VEGETAIS. ANTES OU DEPOIS DO
HOMEM?
No conto que abrange o capítulo 1 e os
três primeiros versículos do capítulo 2 de Gênesis, a Terra já teria produzido
os vegetais antes da existência do Sol, e os animais teriam sido criados no
quinto e no sexto dia, sendo o homem e a mulher os últimos, estes parecidos com
o criador.
O que segue é o mesmo conto da criação
exposto por outro escriba, o qual parece não ter aprendido a estória dos sete
dias. Esse informou que seu deus fez a Terra e os céus, depois o
homem, depois os vegetais, depois os animais, só depois de tudo, tomou uma
costela do homem e fez a mulher.
"Eis as origens dos céus e da terra,
quando foram criados. No dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus não
havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma erva do campo tinha
ainda brotado; porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem
havia homem para lavrar a terra. Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda
a face da terra. E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e
soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.
Então plantou o Senhor Deus um jardim, da banda do oriente, no Éden; e pôs ali o
homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda
qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da
vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal." (Gênesis,
2: 4-9).
"Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea. Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais o campo e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome. Assim o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea. Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar; e da costela que o senhor Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem" (Gênesis, 2: 18-22).
Que contradição! Logo
após dizer que os vegetais foram criados antes dos animais e o home foi o último
deles, o mesmo livro chamado de "A VERDADE" diz que o deus fez o homem, depois
os vegetais, e posteriormente os outros animais, entre os quais o homem não
encontrou uma companhia, o levou o criador a tirar uma de suas costelas e fazer
a mulher. E deus nem fez os micróbios! Claro, os seus
criadores não sabiam da existência dos seres microscópicos. E os crentes nem percebem isso!
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Se Ateísmo fosse religião, seria a quarta maior do mundo, afirma estudioso
Se
o ateísmo fosse uma religião, seria a quarta maior do mundo, cuja
totalidade de “fiéis” fica entre 500 milhões a 750 milhões, afirma o
sociólogo americano e estudioso das religiões Phil Zuckerman. De acordo
com seus cálculos, o cristianismo é a maior religião, com 2 bilhões de
seguidores. Em seguida vêm o islã (1,2 bilhão) e hinduísmo (900
milhões).
Zuckerman
examinou durante seis meses dados estatísticos nacionais e
internacionais de vários países para estimar a população de ateus. O que
ele conseguiu, para cada país, foi uma variação percentual que em
alguns casos é grande por causa das diferentes metodologias dos
levantamentos.
Ainda
assim ele montou um ranking dos países com as maiores percentagens de
ateus. Zuckerman detalha esses dados no livro "Sociedade sem Deus - O
que as nações menos religiosas podem nos dizer a respeito da satisfação"
(Society without God: What the Least Religious Nations Can Tell Us About Contentment).
Quando
ele esteve no Brasil em 2008, comentou que a Dinamarca e a Suécia
provam que sociedades relativamente não religiosas podem ser honestas e
boas. "Eu quis que os meus conterrâneos norte-americanos soubessem
disso."
Com informação do site do Atheist Alliance International e do arquivo do blog Paulopes.
Fonte: http://www.paulopes.com.br/2011/06/ateismo-e-quarta-maior-religiao-do.html#ixzz1ibsgzo63
domingo, 22 de janeiro de 2012
Esperando a Nave-Mãe

« Este conto é uma continuação direta de “Fotografando auras”
Quando subi a escada de madeira que dava na sobreloja do endereço que Inês havia me passado – a tal “casa esotérica” onde encontraria Carla e poderia iniciar meu “desenvolvimento na paranormalidade” – confesso que não estava nem um pouco assustado... Esse sempre foi o meu trunfo e minha maldição ao lidar com assuntos “do outro mundo”: minha curiosidade sempre foi muito maior do que meu temor ante o assunto.
Mas, quando cheguei na pequena sala de espera, que mais parecia de um consultório ondontológico, tive uma decepção e um temor. A decepção foi ter encontrado apenas um garoto mais ou menos da minha idade sentado numa cadeira – esperava encontrar algumas “esotéricas bonitinhas”, não nego. O temor foi devido ao ar de assombro com que o jovem me encarou, ele parecia estar com tanto medo de mim, ou de “sei lá o que” que envolvia estar naquele ambiente, que eu mesmo acabei absorvendo um pouco daquele medo para mim.
Quando ia me dirigir a ele para perguntar sobre Carla, ela abriu uma porta que dava para a única outra sala da sobreloja, e me convidou a entrar. Carla era bem mais jovem e bonita do que Inês, mas nesse caso isso era algo estranho para mim – como poderia “ela ser a guru, e a outra a assistente”? Como podem ver, eu não tinha muita experiência no ramo, somente muitos anos depois descobri que em assuntos espirituais a idade não é garantia nem documento de nada.
deveríamos estar preparados para deixar a Terra de um dia para o outro
Mas, ao menos nesse caso, tanto Inês quanto Carla pareciam estar igualmente “confusas”... Minha conversa com Carla foi tão estranha que eu hoje mal lembro exatamente sobre o que conversamos. Tudo que me lembro foi que ela eventualmente me alertou para “a chegada das naves” e para como “deveríamos estar preparados para deixar a Terra de um dia para o outro”.
Aquilo me deixou tão confuso que tudo que pude fazer foi concordar com
a maior parte do que ela me disse, e tentar compreender melhor se
aquilo fazia algum sentido posteriormente, lendo o livro que ela me
indicou...
De saída, passei numa livraria próxima onde o livro estava à venda.
Chama “Projeto Evacuação Mundial” e foi escrito por Ergom Abraham, que
normalmente é referido como “professor Ergom”, apesar se eu não saber
até hoje o que exatamente ele ensina. Por sorte, o livro é tão fantástico e absurdo,
que resolvi guardá-lo para a posteridade, do contrário não poderia
trazer a vocês tantos detalhes sobre ele agora. Ele está aqui do meu
lado, vou citar algumas passagens:“Este livro é carinhosamente dedicado a Todos os Membros da “L.I.V.R.E.” – Legião Intergaláctica dos Voluntários Reais Espaciais, presentes no Planeta (trecho da Dedicatória, o primeiro que se lê no livro)”.
“De Jesus o Cristo:
Deve haver paz na Terra. Deve haver fim às guerras e ao ódio entre irmãos. Os milhões que vêm de outros mundos, de galáxias distantes para ajudar a trazer Paz à Terra, têm meu firme apoio e respaldo para todos os seus esforços [...] Eu sou Sananda e esta é minha mensagem ao mundo (trecho do Prólogo, onde temos o comunicado do comandante espacial Sananda, ou seja, Jesus Cristo)”.
“Vários milhões de voluntários universais caminham sobre a Terra: estão cheios de luz, completos em sua dedicação e consagração ao Governo Celestial, à Hierarquia Solar e a Confederação Intergaláctica, na salvaguarda do planeta. Os mais elevados Concílios Celestiais decretaram que aqueles eleitos sejam pessoalmente recolhidos a Terra, temporariamente postos em uma frequência superior dentro de nosso território, para ali serem preparados física e espiritualmente para as missões e operações a serem efetuadas (trecho de uma das mensagens de Ashtar, o comandante da Nave-Mãe que virá a Terra buscar “os eleitos”)”.
“Com quase um ano de antecipação, fui informada de que regressaríamos das reuniões com o Comando, com “algo para levar e usar” [...] Algumas trarão colares, outros anéis, broches, porém todos com pedras de cristal engastadas. O que importa nesses objetos não é a forma, mas sim o fato de que sejam levados e, de algum modo, colocados sobre o corpo (depoimento da médium Eve Carney, onde alerta sobre os “presentes” que os extraterrestres lhes darão, estranhamente seriam presentes um tanto quanto “terrenos”)”.
Vamos resumir rapidamente do que se trata o livro: Os tempos “estão chegados”, uma “nova era” se aproxima e ela não trará a princípio boas notícias para nosso planeta. Grandes desastres naturais e guerras causadas pela ignorância humana vão transformar a Terra em um inferno. Porém, alguns “eleitos” e “iniciados nos mistérios do Comando Ashtar” serão selecionados para escaparam do apocalipse terreno na Nave-Mãe do Comandante Ashtar e outras naves de sua frota. A esses seres “evoluídos espiritualmente” espera-se que a esperança da raça humana persista, e que possam povoar outros mundos, ou talvez este mesmo, quando retornarem para arrumar a bagunça que os “não eleitos” tiverem causado a Terra.
Antes que me perguntem: sim, a Nave-Mãe viria fisicamente ao planeta. E o “arrebatamento” seria também físico – nada de um intercâmbio de espíritos desencarnados, conforme relatos espíritas nos trazem, seria um evento puramente FÍSICO.
não posso afirmar a priori que o Comandante Ashtar e sua Nave-Mãe não existam
Agora o que eu achei do assunto? Bem, não posso afirmar a priori que o Comandante Ashtar e sua Nave-Mãe não existam,
pois a ausência da evidência não é a evidência da ausência. Além
disso, como os alienígenas se comunicam através de contatos com médiuns
na Terra, e como eu acredito que a mediunidade exista, não poderia
negar a priori a possibilidade desse tipo de contato. Dito isso, existem obviamente vários problemas graves com a teoria de Ergom:
A. Se a “evacuação mundial” será física, e não
espiritual, porque até hoje nenhum seguidor de Ashtar nos trouxe uma
prova física de sua existência? Não precisava ser uma de suas naves a
descer em frente à Casa Branca nem nada desse tipo, bastaria um
artefato, um desses “colares” e “broches” que seriam entregues, contendo
quem sabe um tipo de cristal inexistente na Terra. Mas não há nenhum
tipo de evidência física.B. Se “os tempos são chegados” e é preciso que as pessoas tenham fé na vinda da Nave-Mãe, para que sejam salvas, porque então não trazer uma evidência física? Esse tipo de coisa traria muito mais seguidores, muitos mais “candidatos à salvação”, do que apenas mensagens mediúnicas publicadas em livros esotéricos.
C. Porque diabos Jesus Cristo, ou o Comandante Sananda, sendo o regente interplanetário deste setor da galáxia (incluindo a Terra), iria simplesmente enviar uma nave para resgatar alguns poucos eleitos? Porque não enviar uma nave que pudesse trazer a tecnologia necessária para salvar a Terra das catástrofes vindouras? Porque não descer ele mesmo nessa nave, ou quem sabe o Comandante Ashtar, para que pudessem instruir nossos governos ao que deveria ser feito para salvar o planeta? Porque, enfim, deixar bilhões morrerem (incluindo os animais que não tem nada a ver com a história), para salvar alguns milhares?
D. Porque toda essa história se parece tanto com a crença bíblica de Céu e Inferno? Há no livro inúmeras referências ao “apocalipse bíblico” e as “muitas moradas” relatadas por Jesus... Mas, se toda essa história é apenas uma “versão futurista” do mito do fim do mundo, caímos de volta na fragilidade de muitas de suas afirmações. Eu poderia me estender sobre isso aqui, mas creio que basta lembrar de uma coisa: “Como poderemos ser nalguma felizes no Céu sabendo que boa parte dos seres da Terra, incluindo amigos próximos e familiares, estarão ardendo em um Lago de Enxofre?”.
A minha ideia de Céu não se parece com um Reino de Ócio nem com um “planeta novo a nossa espera”... O Céu se faz quando todos os seres se amam e auxiliam mutuamente. No Céu só poderemos entrar de mãos dadas, e se nalgum dia chegarmos lá antes de nossos irmãos, tudo o que desejaríamos seria retornar e ajudar os que aqui ficaram – pois isso seria a atitude natural de um ser amoroso.
Então, eu sinto muito, Ergom, e eu sinto muito, Comandante Ashtar, mas se quiserem pousar sua Nave-Mãe e “salvar seus eleitos”, que sejam bem vindos. Mas eu, eu ficarei. Ficarei para ajudar o planeta... E acho que isso resume o que tinha para dizer acerca do “Projeto Evacuação Mundial”.
Nunca mais voltei aquela “casa esotérica”, mas tem uma coisa que não me foge a memória... O garoto, o pobre garoto... Será que ele vive até hoje angustiado, esperando pela Nave-Mãe que não chega? Será que ele realmente se acha um paranormal?
Também não me perguntem o que o Comando Ashtar tem a ver com as fotografias Kirlian, até hoje não descobri... Felizmente, no entanto, nem todas as minhas festas estranhas foram tão sem sentido.
Isto não é o nada, parte 2

Está na hora de eu dar minha opinião sobre tudo isso... Apesar de admirar o pensamento de todos os autores citados acima – incluindo dos que discordo –, penso que ainda há uma forma de resumir estas questões da unificação fundamental, do surgimento da vida e do paradoxo de ainda não termos encontrado nenhum sinal de vida inteligente neste Cosmos tão grande.
Este é o problema, o paradoxo, e também a solução – ele é grande, muito grande, talvez não muito diferente, na prática, do infinito. Quando os cientistas descobriram a radiação de fundo cósmica, uma das maiores comprovações experimentais da teoria do Big Bang, também se depararam com um grande problema: como explicar como ela era tão homogênea?
Isto foi resolvido pela teoria do físico Alan Guth. A sua idéia é que, na aurora do tempo, o espaço inflou com uma velocidade absurdamente grande. Dois pontos que, inicialmente, eram vizinhos, durante a expansão ultra-rápida se distanciaram mais rapidamente do que a velocidade da luz. Para que o mecanismo funcionasse e pudesse explicar a geometria cósmica e a homogeneidade da matéria, e expansão tinha de ser exponencialmente rápida. Por isso, sua teoria ficou conhecida como Inflação Cósmica. Atualmente esta teoria é aceita pela grande maioria dos cientistas.
Uma das conseqüências da Inflação é o conceito de horizonte cósmico... Sabemos que nada material viaja mais rápido do que a luz, entretanto, durante a Inflação, o próprio tecido do espaço-tempo “inflou” de forma mais rápida do que a luz! Isso significa que existe um horizonte até onde podemos enxergar o universo – e além dele há o “universo desconhecido”, além do alcance da luz do nosso lado, do nosso horizonte, como uma América que jamais poderá ser alcançada por Colombo.

Os cientistas procuram por agulhas no palheiro cósmico, e ao não encontrá-las ficam algo inquietos e angustiados... Para os que seguem a bíblia, como Heeren, isso só pode significar que Deus escolheu mesmo apenas aquele povo perdido num deserto da terceira pedra do Sol, na periferia de uma dentre trilhões de galáxias; Para os céticos desiludidos com a busca pela unificação na ciência, ou pela busca da “vida abundante” no Cosmos, isso só pode significar que somos um raríssimo acidente em meio a um universo caótico e hostil; Ainda para outros, talvez mais moderados, isso tão somente significa que o Cosmos é grande, realmente grande – mas quão grande?
É aí que o infinito entra para bagunçar com todas as teorias e crenças de tantas mentes brilhantes. O infinito não se equaciona, está além da matemática e talvez mesmo além de nossa racionalidade... Mesmo assim, ainda é possível tentar vislumbrá-lo pela lógica, tal qual arriscou o grande Benedito Espinosa.
Em sua “Ética” (Ed. Autêntica), Espinosa analisa a questão da criação, do “porque existe algo e não nada?”. Podem acusá-lo de ser mais um “sonhador da unidade fundamental de todas as coisas” – tal qual o faz Marcelo Gleiser com certa propriedade –, mas apenas acusar não basta: é preciso resolver a questão, é preciso encarar ao infinito face a face. E até hoje, que me desculpem os seguidores da bíblia e cientistas céticos, dentre todas as teorias acima citadas, somente ele avançou efetivamente nesta questão.
Se algo não surge do nada, nem mesmo flutuações quânticas no vácuo, nem mesmo um espaço vazio ou um pensamento, então há que existir algo de incriado, algo de eterno. Espinosa o chamou de Substância, “a Substância que não poderia criar a si mesma”... Ora, como sabemos que espaço e tempo estão intimamente conectados, falar em eternidade é falar em infinito.
Comparativamente, o núcleo de um átomo em relação à órbita de seus elétrons corresponderia a um pequeno inseto no centro de um estádio de futebol, uma mosca no meio do Maracanã. O resto é espaço vazio, ou preenchido por alguma parte dos 96% de matéria ou energia escura que não interagem com a luz e, portanto, jamais foram detectados pela ciência – postula-se sua existência pela observação do movimento das galáxias, na media em que falta bastante matéria para explicá-lo.
Seguindo nesse pensamento, sabemos que apenas em nosso horizonte cósmico existem mais estrelas (sóis como o nosso, cheias de planetas à volta) do que grãos de areia em todas as praias da Terra! E mesmo que nem uma única forma de vida exista em torno desses trilhões e trilhões de sóis, lembrem-se de que estamos falando apenas de nosso horizonte, de até onde nossa luz pode chegar. No “universo desconhecido” temos praticamente um infinito de possibilidades. É muito difícil afirmar qualquer coisa do tipo “não existe vida fora da Terra” ante à tal infinito.

Por mais rara que seja a vida na Terra, ela não se compara à raridade da simples existência de tudo o que há. Como os 4% da matéria que interage com a luz, ou como a ínfima quantidade de elementos pesados que possibilitam a vida como a conhecemos em meio a um oceano de hélio e hidrogênio, somos tão raros quanto a própria Substância. E mesmo que sejamos poucos na Terra, nos confins de nosso horizonte cósmico e além, certamente seremos muitos – tantos quanto às estrelas em meio ao infinito.
Da próxima vez que se angustiarem com a escuridão da noite, com a idéia do nada e da morte vindoura, lembrem-se de que também temos tantos neurônios em nosso cérebro quanto estrelas no céu, lembrem-se de tudo isso que nos lembramos, e pensamos, e sentimos, e intuímos. Lembrem-se e afirmem para si mesmos:
Isto não é o nada.
***
Crédito das imagens: Silent World
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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Quem escreveu a Bíblia?
por José Francisco Botelho
Fonte: http://super.abril.com.br/religiao/quem-escreveu-biblia-447888.shtml
Em algum lugar do Oriente Médio, por volta do século 10 a.C., uma pessoa
decidiu escrever um livro. Pegou uma pena, nanquim e folhas de papiro
(uma planta importada do Egito) e começou a contar uma história mágica,
diferente de tudo o que já havia sido escrito. Era tão forte, mas tão
forte, que virou uma obsessão. Durante os 1 000 anos seguintes, outras
pessoas continuariam reescrevendo, rasurando e compilando aquele texto,
que viria a se tornar o maior best seller de todos os tempos: a Bíblia.
Ela apresentou uma teoria para o surgimento do homem, trouxe os
fundamentos do judaísmo e do cristianismo, influenciou o surgimento do
islã, mudou a história da arte – sem a Bíblia, não existiriam os
afrescos de Michelangelo nem os quadros de Leonardo da Vinci – e nos
legou noções básicas da vida moderna, como os direitos humanos e o
livre-arbítrio. Mas quem escreveu, afinal, o livro mais importante que a
humanidade já viu? Quem eram e o que pensavam essas pessoas? Como
criaram o enredo, e quem ditou a voz e o estilo de Deus? O que está na
Bíblia deve ser levado ao pé da letra, o que até hoje provoca conflitos
armados? A resposta tradicional você já conhece: segundo a tradição
judaico-cristã, o autor da Bíblia é o próprio Todo-Poderoso. E ponto
final. Mas a verdade é um pouco mais complexa que isso.
A própria Igreja admite que a revelação divina só veio até nós por meio
de mãos humanas. A palavra do Senhor é sagrada, mas foi escrita por
reles mortais. Como não sobraram vestígios nem evidências concretas da
maioria deles, a chave para encontrá-los está na própria Bíblia. Mas ela
não é um simples livro: imagine as Escrituras como uma biblioteca
inteira, que guarda textos montados pelo tempo, pela história e pela fé.
Aliás, o termo “Bíblia”, que usamos no singular, vem do plural grego ta
biblia ta hagia – “os livros sagrados”. A tradição religiosa sempre
sustentou que cada livro bíblico foi escrito por um autor claramente
identificável. Os 5 primeiros livros do Antigo Testamento (que no
judaísmo se chamam Torá e no catolicismo Pentateuco) teriam sido
escritos pelo profeta Moisés por volta de 1200 a.C. Os Salmos seriam
obra do rei Davi, o autor de Juízes seria o profeta Samuel, e assim por
diante. Hoje, a maioria dos estudiosos acredita que os livros sagrados
foram um trabalho coletivo. E há uma boa explicação para isso.
As histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de
Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e pedaços da
Jordânia, do Egito e da Síria. Durante séculos acreditou-se que Canaã
fora dominada pelos hebreus. Mas descobertas recentes da arqueologia
revelam que, na maior parte do tempo, Canaã não foi um Estado, mas uma
terra sem fronteiras habitada por diversos povos – os hebreus eram
apenas uma entre muitas tribos que andavam por ali. Por isso, sua
cultura e seus escritos foram fortemente influenciadas por vizinhos como
os cananeus, que viviam ali desde o ano 5000 a.C. E eles não foram os
únicos a influenciar as histórias do livro sagrado.
As raízes da árvore bíblica também remontam aos sumérios, antigos
habitantes do atual Iraque, que no 3o milênio a.C. escreveram a Epopéia
de Gilgamesh. Essa história, protagonizada pelo semideus Gilgamesh,
menciona uma enchente que devasta o mundo (e da qual algumas pessoas se
salvam construindo um barco). Notou semelhanças com a Bíblia e seus
textos sobre o dilúvio, a arca de Noé, o fato de Cristo ser humano e
divino ao mesmo tempo? Não é mera coincidência. “A Bíblia era uma obra
aberta, com influências de muitas culturas”, afirma o especialista em
história antiga Anderson Zalewsky Vargas, da UFRGS.
Foi entre os séculos 10 e 9 a.C. que os escritores hebreus começaram a
colocar essa sopa multicultural no papel. Isso aconteceu após o reinado
de Davi, que teria unificado as tribos hebraicas num pequeno e frágil
reino por volta do ano 1000 a.C. A primeira versão das Escrituras foi
redigida nessa época e corresponde à maior parte do que hoje são o
Gênesis e o Êxodo. Nesses livros, o tema principal é a relação passional
(e às vezes conflituosa) entre Deus e os homens. Só que, logo no começo
da Beeblia, já existiu uma divergência sobre o papel do homem e do
Senhor na história toda. Isso porque o personagem principal, Deus, é
tratado por dois nomes diferentes.
Em alguns trechos ele é chamado pelo nome próprio, Yahweh – traduzido em
português como Javé ou Jeová. É um tratamento informal, como se o autor
fosse íntimo de Deus. Em outros pontos, o Todo-Poderoso é chamado de
Elohim, um título respeitoso e distante (que pode ser traduzido
simplesmente como “Deus”). Como se explica isso? Para os
fundamentalistas, não tem conversa: Moisés escreveu tudo sozinho e usou
os dois nomes simplesmente porque quis. Só que um trecho desse texto
narra a morte do próprio Moisés. Isso indica que ele não é o único
autor. Os historiadores e a maioria dos religiosos aceitam outra teoria:
esses textos tiveram pelo menos outros dois editores.
Acredita-se que os trechos que falam de Javé sejam os mais antigos,
escritos numa época em que a religiosidade era menos formal. Eles contêm
uma passagem reveladora: antes da criação do mundo, “Yahweh não
derramara chuva sobre a terra, e nem havia homem para lavrar o solo”.
Essa frase, “não havia homem para lavrar o solo”, indica que, na
primeira versão da Bíblia, o homem não era apenas mais uma criação de
Deus – ele desempenha um papel ativo e fundamental na história toda.
“Nesse relato, o homem é co-criador do mundo”, diz o teólogo Humberto
Gonçalves, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, no Rio Grande do
Sul.
Pelo nome que usa para se referir a Deus (Javé), o autor desses trechos
foi apelidado de Javista. Já o outro autor, que teria vivido por volta
de 850 a.C., é apelidado de Eloísta. Mais sisudo e religioso, ele compôs
uma narrativa bastante diferente. Ao contrário do Deus-Javé, que fez o
mundo num único dia, o Deus-Elohim levou 6 (e descansou no 7o). Nessa
história, a criação é um ato exclusivo de Deus, e o homem surge apenas
no 6o dia, junto aos animais.
Tempos mais tarde, os dois relatos foram misturados por editores
anônimos – e a narrativa do Eloísta, mais comportada, foi parar no
início das Escrituras. Começando por aquela frase incrivelmente simples e
poderosa, notória até entre quem nunca leu a Bíblia: “E, no início,
Deus criou o céu e a terra...”
![]() |
Ahura Mazda x Arimã |
A versão final do Pentateuco surgiu por volta de 389 a.C. Nessa época,
um religioso chamado Esdras liderou um grupo de sacerdotes que mudaram
radicalmente o judaísmo – a começar por suas escrituras. Eles editaram
os livros anteriores e escreveram a maior parte dos livros Deuteronômio,
Números, Levítico e também um dos pontos altos da Bíblia: os 10
Mandamentos. Além de afirmar o monoteísmo sem sombra de dúvidas (“amarás
a Deus acima de todas as coisas” é o primeiro mandamento), a reforma
conduzida por Esdras impunha leis religiosas bem rígidas, como a
proibição do casamento entre hebreus e não-hebreus. Algumas das leis
encontradas no Levítico se assemelham à ética moderna dos direitos
humanos: “Se um estrangeiro vier morar convosco, não o maltrates. Ama-o
como se fosse um de vós”.
Outras passagens, no entanto, descrevem um Senhor belicoso, vingativo e
sanguinário, que ordena o extermínio de cidades inteiras – mulheres e
crianças incluídas. “Se a religião prega a compaixão, por que os textos
sagrados têm tanto ódio?”, pergunta a historiadora americana Karen
Armstrong, autora de um novo e provocativo estudo sobre a Bíblia. Para
os especialistas, a violência do Antigo Testamento é fruto dos séculos
de guerras com os assírios e os babilônios. Os autores do livro sagrado
foram influenciados por essa atmosfera de ódio, e daí surgiram as
histórias em que Deus se mostra bastante violento e até cruel. Os
redatores da Bíblia estavam extravasando sua angústia.
Por volta do ano 200 a.C., o cânone (conjunto de livros sagrados)
hebraico já estava finalizado e começou a se alastrar pelo Oriente
Médio. A primeira tradução completa do Antigo Testamento é dessa época.
Ela foi feita a mando do rei Ptolomeu 2o em Alexandria, no Egito, grande
centro cultural da época. Segundo uma lenda, essa tradução (de hebraico
para grego) foi realizada por 72 sábios judeus. Por isso, o texto é
conhecido como Septuaginta. Além da tradução grega, também surgiram
versões do Antigo Testamento no idioma aramaico – que era uma espécie de
língua franca do Oriente Médio naquela época.
Dois séculos mais tarde, a Bíblia em aramaico estava bombando: ela era a
mais lida na Judéia, na Samária e na Galiléia (províncias que formam os
atuais territórios de Israel e da Palestina). Foi aí que um jovem
judeu, grande personagem desta história, começou a se destacar. Como
Sócrates, Buda e outros pensadores que mudaram o mundo, Jesus de Nazaré
nada deixou por escrito – os primeiros textos sobre ele foram produzidos
décadas após sua morte.
E o cristianismo já nasceu perseguido: por se recusarem a cultuar os
deuses oficiais, os cristãos eram considerados subversivos pelo Império
Romano, que dominava boa parte do Oriente Médio desde o século 1 a.C.
Foi nesse clima de medo que os cristãos passaram a colocar no papel as
histórias de Jesus, que circulavam em aramaico e também em coiné – um
dialeto grego falado pelos mais pobres. “Os cristãos queriam compreender
suas origens e debater seus problemas de identidade”, diz o teólogo
Paulo Nogueira, da Universidade Metodista de São Paulo. Para fazer isso,
criaram um novo gênero literário: o evangelho. Esse termo, que vem do
grego evangélion (“boa-nova”), é um tipo de narrativa religiosa contando
os milagres, os ensinamentos e a vida do Messias.
A maioria dos evangelhos escritos nos séculos 1 e 2 desapareceu. Naquela
época, um “livro” era um amontoado de papiros avulsos, enrolados em
forma de pergaminho, podendo ser facilmente extraviados e perdidos. Mas
alguns evangelhos foram copiados e recopiados à mão, por membros da
Igreja. Até que, por volta do século 4, tomaram o formato de códice – um
conjunto de folhas de couro encadernadas, ancestral do livro moderno. O
problema é que, a essa altura do campeonato, gerações e gerações de
copiadores já haviam introduzido alterações nos textos originais – seja
por descuido, seja de propósito. “Muitos erros foram feitos nas cópias,
erros que às vezes mudaram o sentido dos textos. Em certos casos, tais
erros foram também propositais, de acordo com a teologia do escrivão”,
afirma o padre e teólogo Luigi Schiavo, da Universidade Católica de
Goiás. Quer ver um exemplo?
Sabe aquela famosa cena em que Jesus salva uma adúltera prestes a ser
apedrejada? De acordo com especialistas, esse trecho foi inserido no
Evangelho de João por algum escriba, por volta do século 3. Isso porque,
na época, o cristianismo estava cortando seu cordão umbilical com o
judaísmo. E apedrejar adúlteras é uma das leis que os
sacerdotes-escritores judeus haviam colocado no Pentateuco. A introdução
da cena em que Jesus salva a adúltera passa a idéia de que os
ensinamentos de Cristo haviam superado a Torá – e, portanto, os cristãos
já não precisavam respeitar ao pé da letra todos os ensinamentos
judeus.
A julgar pelo último livro da Bíblia cristã, o Apocalipse (que descreve o
fim do mundo), o receio de ter suas narrativas “editadas” era comum
entre os autores do Novo Testamento. No versículo 18, lê-se uma terrível
ameaça: “Se alguém fizer acréscimos às páginas deste livro, Deus o
castigará com as pragas descritas aqui”. Essa ameaça reflete bem o clima
dos primeiros séculos do cristianismo: uma verdadeira baderna
teológica, com montes de seitas defendendo idéias diferentes sobre Deus e
o Messias. A seita dos docetas, por exemplo, acreditava que Jesus não
teve um corpo físico. Ele seria um espírito, e sua crucificação e morte
não passariam – literalmente – de ilusão de ótica. Já os ebionistas
acreditavam que Jesus não nascera Filho de Deus, mas fora adotado, já
adulto, pelo Senhor. A primeira tentativa de organizar esse caos das
Escrituras ocorreu por volta de 142 – e o responsável não foi um
clérigo, mas um rico comerciante de navios chamado Marcião.
A Bíblia segundo Marcião
Ele nasceu na atual Turquia, foi para Roma, converteu-se ao
cristianismo, virou um teólogo influente e resolveu montar sua própria
seleção de textos sagrados. A Bíblia de Marcião era bem diferente da que
conhecemos hoje. Isso porque ele simpatizava com uma seita cristã hoje
desaparecida, o gnosticismo. Para os gnósticos, o Deus do Velho
Testamento não era o mesmo que enviara Jesus – na verdade, as duas
divindades seriam inimigas mortais. O Deus hebraico era monstruoso e
sanguinário, e controlava apenas o mundo material. Já o universo
espiritual seria dominado por um Deus bondoso, o pai de Jesus. A Bíblia
editada por Marcião continha apenas o Evangelho de João, 11 cartas de
Paulo e nenhuma página do Velho Testamento. Se as idéias de Marcião
tivessem triunfado, hoje as histórias de Adão e Eva no paraíso, a arca
de Noé e a travessia do mar Vermelho não fariam parte da cultura
ocidental. Mas, por volta de 170, o gnosticismo foi declarado proibido
pelas autoridades eclesiásticas, e o primeiro editor da Bíblia cristã
acabou excomungado.
Roma, até então pior inimiga dos cristãos, ia se rendendo à nova fé. Em
313, o imperador romano Constantino se aliou à Igreja. Ele pretendia
usar a força crescente da nova religião para fortalecer seu império.
Para isso, no entanto, precisava de uma fé una e sólida. A pressão de
Constantino levou os mais influentes bispos cristãos a se reunirem no
Concílio de Nicéia, em 325, para colocar ordem na casa de Deus. Ali,
surgiu o cânone do cristianismo – a lista oficial de livros que, segundo
a Igreja, realmente haviam sido inspirados por Deus.
“A escolha também era política. Um grupo afirmou seu poder e autoridade
sobre os outros”, diz o padre Luigi. Esse grupo era o dos cristãos
apostólicos, que ganharam poder ao se aliar com o Império Romano. Os
apostólicos eram, por assim dizer, o “partido do governo”. E por isso
definiram o que iria entrar, ou ser eliminado, das Escrituras.
Eles escolheram os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João para
representar a biografia oficial de Cristo, enquanto as invenções dos
docetas, dos ebionistas e de outras seitas foram excluídas, e seus
autores declarados hereges. Os textos excluídos do cânone ganharam o
nome de “apócrifos” – palavra que vem do grego apocrypha, “o que foi
ocultado”. A maioria dos apócrifos se perdeu – afinal de contas, os
escribas da Igreja não estavam interessados em recopiá-los para a
posteridade. Mas, com o surgimento da arqueologia, no século 19, pedaços
desses textos foram encontrados nas areias do Oriente Médio. É o caso
de um polêmico texto encontrado em 1886 no Egito. Ele é assinado por uma
certa “Maria” que muitos acreditam ser a Madalena, discípula de Jesus,
presente em vários trechos do Novo Testamento. O evangelho atribuído a
ela é bem feminista: Madalena é descrita como uma figura tão importante
quanto Pedro e os outros apóstolos. Nos primórdios do cristianismo, as
mulheres eram aceitas no clero – e eram, inclusive, consideradas capazes
de fazer profecias. Foi só no século 3 que o sacerdócio virou monopólio
masculino, o que explicaria a censura da apóstola e seu testemunho.
Aliás, tudo indica que Madalena não foi prostituta – idéia que teria
surgido por um erro na interpretação do livro sagrado. No ano 591, o
papa Gregório fez um sermão dizendo que Madalena e outra mulher, também
citada nas Escrituras e essa sim ex-pecadora, na verdade seriam a mesma
pessoa (em 1967, o Vaticano desfez o equívoco, limpando a reputação de
Maria).
Na evolução da Bíblia, foram aparecendo vários trechos machistas – e
suspeitos. É o caso de uma passagem atribuída ao apóstolo Paulo: “A
mulher aprenda (...) com toda a sujeição. Não permito à mulher que
ensine, nem que tenha domínio sobre o homem (...) porque Adão foi
formado primeiro, e depois Eva”. É provável que Paulo jamais tenha
escrito essas palavras – porque, na época em que ele viveu, o
cristianismo não pregava a submissão da mulher. Acredita-se que essa
parte tenha sido adicionada por algum escriba por volta do século 2.
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Constantino |
Após a conversão do imperador Constantino, o eixo do cristianismo se deslocou do Oriente Médio para Roma. Só que, para completar a romanização da fé, faltava um passo: traduzir a palavra de Deus para o latim. A missão coube ao teólogo Eusebius Hyeronimus, que mais tarde viria a ser canonizado com o nome de são Jerônimo. Sob ordens do papa Damaso, ele viajou a Jerusalém em 406 para aprender hebraico e traduzir o Antigo e o Novo Testamento. Não foi nada fácil: o trabalho durou 17 anos.
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Vulgata |
O único jeito de disseminar o livro sagrado era copiá-lo à mão, tarefa
realizada pelos monges copistas. Eles raramente saíam dos mosteiros e
passavam a vida copiando e catalogando manuscritos antigos. Só que, às
vezes, também se metiam a fazer o papel de autores.
Após a queda do Império Romano, grande parte da literatura da
Antiguidade grega e romana se perdeu – foi graças ao trabalho dos monges
copistas que livros como a Ilíada e a Odisséia chegaram até nós. Mas
alguns deles eram meio malandros: costumavam interpolar textos nas
Escrituras Sagradas para agradar a reis e imperadores. No século 15, por
exemplo, monges espanhóis trocaram o termo “babilônios” por “infiéis”
no texto do Antigo Testamento – um truque para atacar os muçulmanos, que
disputavam com os espanhóis a posse da península Ibérica.
Escrituras em série
Tudo isso mudou após a invenção da imprensa, em 1455. Agora ninguém mais
dependia dos copistas para multiplicar os exemplares da Bíblia. Por
isso, o grande foco de mudanças no texto sagrado passou a ser outro: as
traduções.Em 1522, o pastor Martinho Lutero usou a imprensa para
divulgar em massa sua tradução da Bíblia, que tinha feito direto do
hebraico e do grego para o alemão. Era a primeira vez que o texto
sagrado era vertido numa língua moderna – e a nova versão trouxe várias
mudanças, que provocavam a Igreja (veja quadro na pág. 65). Logo depois
um britânico, William Tyndale, ousou traduzir a Bíblia para o inglês. No
Novo Testamento, ele traduziu a palavra ecclesia por “congregação”, em
vez de “igreja”, o termo preferido pelas traduções católicas. A mudança
nessa palavrinha era um desafio ao poder dos papas: como era
protestante, Tyndale tinha suas diferenças com a Igreja. Resultado? Ele
foi queimado como herege em 1536. Mas até hoje seu trabalho é referência
para as versões inglesas do livro sagrado.
A Bíblia chegou ao nosso idioma em 1753 – quando foi publicada sua
primeira tradução completa para o português, feita pelo protestante João
Ferreira de Almeida. Hoje, a tradução considerada oficial é a feita
pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e lançada em 2001.
Ela é considerada mais simples e coloquial que as traduções anteriores.
De lá para cá, a Bíblia ganhou o mundo e as línguas. Já foi vertida
para mais de 300 idiomas e continua um dos livros mais influentes do
mundo: todos os anos, são publicadas 11 milhões de cópias do texto
integral, e 14 milhões só do Novo Testamento.
Depois de tantos séculos de versões e contra-versões, ainda não há
consenso sobre a forma certa de traduzi-la. Alguns buscam traduções mais
próximas do sentido e da época original – como as passagens traduzidas
do hebraico pelo lingüista David Rosenberg na obra O Livro de J, de
1990. Outros acham que a Bíblia deve ser modernizada para atrair
leitores. O lingüista Eugene Nida, que verteu a Bíblia na década de
1960, chegou ao extremo de traduzir a palavra “sestércios”, a antiga
moeda romana, por “dólares”. Em 2008, duas versões igualmente ousadas
estão agitando as Escrituras: a Green Bible (“Bíblia Verde”, ainda sem
versão em português), que destaca 1 000 passagens relacionadas à
ecologia – como o momento em que Jó fala sobre os animais –, e a Bible
Illuminated (‘Bíblia Iluminada”, em inglês), com design ultramoderno e
fotos de celebridades como Nelson Mandela e Angelina Jolie.
A Bíblia se transforma, mas uma coisa não muda: cada pessoa, ou grupo de
pessoas, a interpreta de uma maneira diferente – às vezes, com
propósitos equivocados. Em pleno século 21, pastores fundamentalistas
tentam proibir o ensino da Teoria da Evolução nas escolas dos EUA, sendo
que a própria Igreja aceita as teorias de Darwin desde a década de
1950. Líderes como o pastor Jerry Falwell defendem o retorno da
escravidão e o apedrejamento de adúlteros, e no Oriente Médio rabinos
extremistas usam trechos da Torá para justificar a ocupação de terras
árabes. Por quê? Porque está na Bíblia, dizem os radicais. Não é nada
disso. Hoje, os principais estudiosos afirmam que a Bíblia não deve ser
lida como um manual de regras literais – e sim como o relato da jornada,
tortuosa e cheia de percalços, do ser humano em busca de Deus. Porque
esse é, afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de histórias regada há
3 mil anos por centenas de mãos, cabeças e corações humanos: a crença
num sentido transcendente da existência.
Top 5 pragas
I. Quando os hebreus eram escravos no Egito, o Senhor enviou 10 pragas
contra os opressores do povo escolhido. A primeira delas foi transformar
toda a água do país em sangue (Êxodo 7:21).
II. Como o faraó não libertava os hebreus, o Senhor radicalizou: matou,
numa só noite, todos os primogênitos do Egito. “E houve grande clamor no
país, pois não havia casa onde não houvesse um morto” (Êxodo 12:30).
III. Desgostoso com os pecados de Sodoma e Gomorra, Deus destruiu as
duas cidades com uma chuvarada de fogo e enxofre (Gênesis 19:24).
IV. Para punir as desobediências do rei Davi, o Senhor enviou uma
doença não identificada, que matou 70 mil homens e 200 mil mulheres e
crianças (2 Samuel, 24: 1-13).
V. Quando a nação dos filisteus roubou a arca da Aliança, onde estavam
guardados os 10 Mandamentos, o Senhor os castigou com um surto de
hemorróidas letais. “Os intestinos lhes saíam para fora e apodreciam” (1
Samuel 5:9) .
Os possíveis autores
1200 a.C. - Moisés
Segundo uma lenda judaica, a Torá (obra precursora da Bíblia) teria sido
escrita por ele. Mas há controvérsias, pois existe um trecho da Torá
que diz: “Moisés morreu e foi sepultado pelo Senhor próximo a Fegor”.
Ora, se Moisés é o autor do texto, como ele poderia ter relatado a
própria morte?
1000 a.C. - Javista
Viveu na corte do rei Davi, no antigo reino de Israel, e era um
aristocrata. Ou, quem sabe, uma aristocrata: para o crítico Harold
Bloom, Javista era mulher. Isso porque os personagens femininos da
Bíblia (Eva e Sara, por exemplo) são muito mais elaborados que os
masculinos.
Século 4 a.C. - Esdras
Líder religioso que reformou o judaísmo e possível editor do Pentateuco
(5 primeiros livros da Bíblia). Vários trechos bíblicos editados por ele
pregam a violência: “Derrubareis todos os altares dos povos que ides
expropriar, queimareis as casas, e mudareis os nomes desses lugares”.
Século 1 - Paulo
Nunca viu Cristo pessoalmente, mas foi o primeiro a escrever sobre ele.
Nascido na Turquia, Paulo viajou e fundou igrejas pelo Oriente Médio.
Ele escrevia cartas para essas igrejas, contando a incrível aventura de
um tal Jesus – que foi crucificado e ressuscitou.
Século 1 - Maria Madalena
Estava entre os discípulos favoritos de Jesus – e, diferentemente do que
o Vaticano sustentou durante séculos, nunca foi prostituta. Pelo
contrário: tinha influência no cristianismo e é a suposta autora do
Apócrifo de Maria, um livro em que fala sobre sua relação pessoal com
Jesus e divulga os ensinamentos dele.
Século 1 - João
Escreveu o 4o evangelho do Novo Testamento (João) e o Livro do
Apocalipse, o último da Bíblia. Para ele, Jesus não é apenas um messias –
é um ser sobrenatural, a própria encarnação de Deus. Essa interpretação
mística marca a ruptura definitiva entre judaísmo e fé cristã.
Século 5 - Jerônimo
Nascido no território da atual Hungria, este padre foi enviado a
Jerusalém com uma missão importantíssima: traduzir a Bíblia do grego
para o latim. Cometeu alguns erros, como dizer que o profeta Moisés
tinha chifres (uma confusão com a palavra hebraica karan, que na verdade
significa “raio de luz”).
Século 16 - William Tyndale
Possuir trechos da Bíblia em qualquer idioma que não fosse o latim era
crime. O professor Tyndale não quis nem saber, traduziu tudo para o
inglês, e acabou na fogueira. Mas seu trabalho foi incrivelmente
influente: é a base da chamada “Bíblia do Rei James”, até hoje a
tradução mais lida nos países de língua inglesa.
Top 5 matanças
I. Um grupo de meninos malcriados zombou da calvície do profeta Eliseu.
Pra quê! Na hora, dois ursos famintos saíram de um bosque e comeram as
crianças (2 Reis 2:24).
II. Cercado por um exército de filisteus, o herói Sansão apanhou a
mandíbula de um jumento morto. Usando o osso como arma, ele massacrou
mil inimigos (Juízes, 15:16).
III. O profeta Elias convidou os sacerdotes do deus Baal para uma
competição de orações. Era uma armadilha: Elias incitou o povo, que
linchou os pagãos (1 Reis 18:40).
VI. Os judeus haviam perdido a fé e começaram a adorar um bezerro de
ouro. Moisés ficou furioso e mandou sacerdotes levitas matar 3 mil
infiéis (Êxodo 32:19).
V. A nação dos amalequitas disputava o território de Canaã com os
judeus. O Senhor ordena que todos os amalequitas sejam chacinados (1
Samuel 15:18).
Top 5 satanagens
I. Após a destruição de Sodoma, os únicos sobreviventes eram Ló e suas
duas filhas. As filhas de Lot embebedaram o pai e tiveram com ele a
noite mais incestuosa da Bíblia (Gênesis 19:31).
II. O Cântico dos Cânticos, atribuído ao rei Salomão, é altamente
erótico. Um dos trechos: “Teu corpo é como a palmeira, e teus seios,
como cachos de uvas” (Cânticos 7:7).
III. Os anjos do Senhor tiveram chamegos ilícitos com mulheres mortais.
“Vendo os Filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas,
tomaram-nas como mulheres, tantas quanto desejaram” (Gênesis 6:2).
IV. A Bíblia diz que os antigos egípcios eram muito bem-dotados. Após a
fuga para Canaã, a judia Ooliba tem saudades dos tempos em que se
prostituía no Egito. Tudo porque “seus amantes (...) ejaculavam como
cavalos” (Ezequiel 23:20).
V. O hebreu Onã casou com a viúva de seu irmão, mas não conseguia fazer
sexo com ela – preferia o prazer solitário. Do nome dele vem o termo
“onanismo”, que significa masturbação (Gênesis 38:9).
As história da história
Como o livro sagrado evoluiu ao longo dos tempos
Tanach - Século 5 a.C.
É a Bíblia judaica, e tem 3 livros: Torá (palavra hebraica que significa
“lei”), Nebiim (“profetas”) e Ketuvim (“escritos”). É parecida com a
Bíblia atual, pois os católicos copiaram seus escritos. Contém as
sementes do monoteísmo e da ética religiosa, mas também pregações de
violência. A primeira das bíblias tem trechos ambíguos e misteriosos –
algumas passagens dão a entender que Javé não é o único deus do
Universo.
Septuaginta - Século 3 a.C.
O Oriente Médio era dominado pelos gregos e pelos macedônios. Muitos
judeus viviam em cidades de cultura grega, como Alexandria, e desejavam
adaptar sua religião aos novos tempos. Diz a lenda que Ptolomeu, rei do
Egito, reuniu um grupo de 72 sábios judeus para traduzir a Tanach – e
fizeram tudo em 72 dias. Por isso, o resultado é conhecido como
Septuaginta. Inclui textos que não constam da Tanach.
Novo Testamento - Século 1
A língua do Antigo Testamento é o hebraico, mas o Novo Testamento foi
escrito num dialeto grego chamado coiné. Contém os relatos sobre vida,
milagres, morte e ressurreição de Jesus – os evangelhos. Em alguns
trechos, vai deixando evidente a divergência entre cristianismo e
judaísmo. É o caso, por exemplo, do Evangelho de João, em que Jesus é
descrito como uma encarnação de Deus (coisa na qual os judeus não
acreditavam).
Católica - Século 4
Seus autores decidiram incluir 7 livros que os judeus não reconheciam.
São os chamados Deuterocanônicos: Tobias, Judite, Sabedoria,
Eclesiástico, Baruque, Macabeus 1 e 2 (mais trechos dos livros Daniel e
Ester). A Bíblia católica bate na tecla do monoteísmo: a palavra
hebraica Elohim, usada na Tanach para designar a divindade, é o plural
de El, um deus cananeu. Mas foi traduzida no singular e virou “Senhor”.
Ortodoxa - Por volta do século 4
É baseada na Septuaginta, mas também inclui livros considerados
apócrifos por católicos e protestantes: Esdras 1, Macabeus 3 e 4 e o
Salmo 151. A tradução é mais exata (nesta Bíblia, Moisés nunca teve
chifres, um erro de tradução introduzido pela Bíblia latina), e os
escritos não são levados ao pé da letra: para os ortodoxos, o que conta
são as interpretações do texto bíblico, feitas por teólogos ao longo dos
séculos.
Protestante - Século 16
Ao traduzir a Bíblia para o alemão, Martinho Lutero excluiu os livros
Deuterocanônicos e mudou algumas coisas. Um exemplo é a palavra grega
metanoia, que na Bíblia católica significa “fazer penitência” – uma
referência à confissão dos pecados, um dos sacramentos católicos. Já
Lutero traduziu metanoia como “reviravolta”. Para ele, confessar os
pecados era inútil. O importante era transformar a vida pela fé.
Top 5 milagres
I. O maior de todos os milagres divinos foi o primeiro: a Criação do
mundo, pelo poder da palavra. “E Deus disse: que haja luz. E houve luz”
(Gênesis 1:3).
II. Para dar-lhe uma amostra de seus poderes, o Senhor leva Ezequiel a
um campo cheio de esqueletos – e os traz de volta à vida. “O vento do
Senhor soprou neles, e viveram” (Ezequiel, 37; 1-28).
III. Graças à benção divina, o herói Sansão tinha a força de muitos
homens. Certa vez, foi atacado por um leão. “O espírito do Senhor
deu-lhe poder, e Sansão destroçou a fera com as próprias mãos, como se
matasse um cabrito” (Juízes 14:6).
IV. Josué liderava uma batalha contra os amalequitas, mas o Sol estava
se pondo. Como não queria lutar no escuro, o hebreu pediu ajuda divina –
e o Sol ficou no céu (Josué 10:13).
V. Para fugir do Egito, os hebreus precisavam atravessar o mar Vermelho.
E não tinham navios. Moisés ergueu seu bastão e as águas do mar se
dividiram. Após a passagem dos hebreus, o profeta deixou que as ondas se
fechassem sobre os exércitos do faraó (Êxodo 14; 21-30).
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