A palavra Deus, para mim, é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana; a Bíblia, uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.

— Albert Einstein

quarta-feira, 30 de março de 2011

Seth Shostak do instituto SETI fala sobre o tema 2012 e comenta o filme


Imagem do filme 2012 mostrando o 'fim-do-mundo'. Crédito: Colúmbia Pictures
Imagem do filme 2012 mostrando o 'fim-do-mundo'. Crédito: Colúmbia Pictures
Dr. Seth Shostak, cientista líder do programa SETI (Search for Extra Terrestrial Inteligence) de busca por sinais de inteligência extraterrestre, fala sobre o tema “2012” e suas implicações e critica o filme que em breve chegará as telas.
O assunto “2012” está começando a invadir a paisagem cultural como uma praga artificial: o fim do mundo estaria a apenas três anos de acontecer.
No final de dezembro de 2012, graças a um alinhamento celestial incomum – ou talvez somente a data de expiração do calendário Maia – nosso planeta será destroçado e arruinado. Veja isso pelo lado positivo: não teremos impostos a pagar em 2013…
2012-Poster
Os produtores de Hollywood (que não perdem uma oportunidade de descobrir um filão de ouro) esperam agitar a quietude habitual terrestre. Assim, um filme bombástico a ser lançado, com o ‘criativo’ título “2012”, irá nos mostrar nas telas como é a beleza visual do fim-do-mundo.
Este imbróglio tem deixado diversas pessoas arrepiadas apesar dos avisos dos cientistas para todos esfriarem suas cabeças e deixarem de lado esta pegajosa mistura de pseudociência e previsões apocalípticas de culturas extintas. O fim-do-mundo não está próximo, meus caros amigos, devemos nos lembrar que rotineiramente o apocalipse tem sido repetidamente previsto por falsos profetas, mas nunca acontece…
Isto não é apenas uma referência para contestar as previsões de futuras ‘aglomerações nos portões do paraíso’ ou outros avisos no estilo dos maus agouros da virada do milênio. Devemos, por outro lado, fazer uma análise crítica e considerar a história da Terra desde o surgimento da vida há quase 4 bilhões de anos. Desde que se firmou em nosso planeta, após o fim do difícil eón Hadeano da Terra primordial, a vida tem mostrado altamente resistente e persistente: nem asteróides, cometas, explosões de raios-gama, tempestades solares assassinas, mudanças de pólos magnéticos ou supernovas próximas ocasionais conseguiram esterilizar o planeta Terra.
Na escala de tempo geológico, o Hadeano é éon mais antigo, que começou há cerca de 4,57 bilhões de anos, com o princípio do processo de formação dos planetas do Sistema Solar, e terminou, na Terra, há aproximadamente 3,85 bilhões de anos, quando surgiram as primeiras rochas, marcando o início do éon Arqueano. O nome “Hadeano” vem do grego hades, que significa “inferno”, e foi cunhado pelo geólogo Preston Cloud para o período sobre o qual se tem pouca ou nenhuma informação geológica.
Júpiter e demais planetas: Júpiter sozinho tem 2,5 vezes mais massa que todos os demais planetas somados.
Júpiter e demais planetas: Júpiter sozinho tem 2,5 vezes mais massa que todos os demais planetas somados (Saturno+Urano+Netuno+Terra+Vênus+Marte+Mercúrio).
A idéia que o calendário Maia nos diz quando será o fim-do-mundo é simplesmente patética. Ora, se os Maias fossem tão competentes em adivinhar o futuro, poderíamos concluir que o seu império ainda estaria de pé, vivo e forte, hoje. Além disso, os alinhamentos cósmicos acontecem a todo momento e ninguém nem toma conhecimento. Além disso, que diferença os alinhamentos nos trazem? Que tal calcularmos? o planeta gigante Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, em sua máxima aproximação em relação a Terra consegue atingir uma força de atração gravitacional 20.000 vezes menor que a Terra recebe diariamente do Sol. E tem mais, Júpiter responde por mais de 66% (dois-terços) da massa de todos os planetas somados… Se Júpiter por si muito pouco nos afeta, muito menos farão os demais planetas.
Assim, exceto para as almas ingênuas que insistem em confundir cinema com realidade, esta situação toda não passa de uma mera tempestade em um copo d’água, certo? Não é justamente isso que a mídia estará escrevendo quando o filme chegar as salas de exibição?

O fator “por-que-agora?

É claro que sim. Mas, existe algo bem além disso. O fim-do-mundo para os humanos possivelmente irá acontecer pelo menos se considerarmos como precendente o que aconteceu com centenas de milhões de outras espécies extintas na história da Terra. Foi estimado que 99,9% de todas as criaturas que já passaram por nosso planeta são assunto do passado. Em outras palavras, apesar de nós pensarmos orgulhosamente que somos os ‘pilares da criação’, somos, na verdade, não mais que a última produção da Natureza. Nossa espécie um dia irá chegar ao fim ou talvez sofra uma evolução. Mas, ISTO NÃO SERÁ EM 2012! E a razão disso é simples e chamamos do fator “por que agora?”. O fator “por-que-agora?” é uma versão temporal do princípio enunciado por Copérnico, ou seja, atualmente não é uma época em especial da história humana.
Vamos a um exemplo: muitas pessoas se acham convencidas que os alienígenas vêm a Terra para abduzir os humanos. Mas, “por que agora?” Considerando 10.000 gerações de humanos da nossa história, estes aliens estão só agora chamando nossa atenção? A probabilidade disto ser real seria como ganhar na loteria, mesmo que o prêmio não seja tão interessante quanto uma boa quantidade de dinheiro.
O físico de Princeton J. Richard Gott explorou esta idéia por uma década e tanto para entender tudo sobre as escalas de tempo cósmicas. Um cálculo simples de Gott seria algo como isso: adotando a filosofia do “por-que-agora?” podemos afirmar com 98% de certeza que a humanidade não está nem abaixo de 1% da sua existência nem acima de 99%. Calculando os resultados desta premissa vemos que nossa espécie ainda tem algo como 2.000 a 20.000.000 de anos a frente.
Seth Shostak
Seth Shostak
Assim, estes cálculos numéricos não incluem nossa ruína em 2012.
Mas sempre há alguns que poderiam argüir que a regra do “por-que-agora?” não se aplica a humanidade por que nós estamos interferindo com o mundo. Qualquer um pode citar esquemas possíveis de auto-destruição, que nos transformaria em material de exibição para museus no futuro tais como: mudanças climáticas, guerras nucleares, pandemias ou até mesmo o mau uso e o fim de recursos essenciais. Tão ruins quanto estes problemas contemporâneos podem ser, é difícil argumentar que estas possíveis ameaças poderiam exterminar a biologia da face da Terra.
E em qualquer caso os tipos de cenários de ‘fim-do-mundo’ examinados em filmes como este “2012” não são destruições geradas pelos humanos. São enfim calamidades lúgubres causadas por fatores externos absurdos (exemplo: alinhamentos galácticos perturbadores). Para tais fenômenos externos que tanto deixam os leigos preocupados o principio do “por-que-agora?” se aplica perfeitamente.
Pensar diferente disso é o mesmo que assumir que é o Cosmos que gira em torno da Terra ou que a Terra é o centro do Universo… e isso era uma idéia obsoleta de 500 anos atrás.

Fontes e referências

Space.com:
Explicações científicas sobre 2012:
365 Days of Astronomy: Will the World End in 2012?

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