A palavra Deus, para mim, é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana; a Bíblia, uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.

— Albert Einstein

quarta-feira, 30 de março de 2011

A POSIÇÃO HUMANISTA


         A ação dos humanistas não se inspira em teorias fantasiosas sobre Deus, a Natureza, a Sociedade ou a História. Ela parte das necessidades da vida que consistem em afastar a dor e aproximar o prazer. Porém, a vida humana acrescenta às necessidades a sua previsão do futuro, baseando-se na experiência passada e na intenção de melhorar a situação atual. A sua experiência não é um simples produto de seleções ou acumulações naturais e fisiológicas, como sucede em todas as espécies, é sim experiência social e experiência pessoal dirigidas para superar a dor atual e para evitá-la no futuro. O seu trabalho, acumulado em produções sociais, passa e transforma-se, de geração em geração, em luta contínua pela melhoria das condições naturais, mesmo as do próprio corpo. Por isto, o ser humano deve ser definido como histórico e com um modo de ação social capaz de transformar o mundo e a sua própria natureza. Cada vez que um indivíduo ou um grupo humano se impõe violentamente a outros, consegue parar a História, converte suas vítimas em objetos "naturais". A natureza não tem intenções, portanto, ao negar-se a liberdade e as intenções de outros, estes são convertidos em objetos naturais, em objetos de uso.

O progresso da humanidade, em lenta ascensão, necessita transformar a natureza e a sociedade eliminando a violenta apropriação animal de uns seres humanos por outros. Quando isto acontecer, passar-se-á da Pré-História a uma plena História humana. Entretanto, não se pode partir de outro valor central que o do ser humano pleno nas suas realizações e na sua liberdade. Por isso, os humanistas proclamam: “Nada acima do ser humano e nenhum ser humano embaixo de outro”. Quando se põe como valor central Deus, o Estado, o Dinheiro ou qualquer outra entidade, subordina-se o ser humano criando condições para o seu ulterior controle ou sacrifício. Os humanistas têm este ponto claro. Os humanistas são ateus ou crentes, mas não partem do seu ateísmo ou da sua fé para fundamentar a sua visão do mundo e a sua ação; partem do ser humano e das suas necessidades imediatas. E se na sua luta por um mundo melhor, crêem descobrir uma intenção que mova a História em direção progressiva, põem essa fé ou essa descoberta ao serviço do ser humano.

Os humanistas colocam o problema de fundo: saber se se quer viver e decidir em que condições fazê-lo.

Todas as formas de violência seja física, econômica, racial, religiosa, sexual e ideológica, graças às quais se tem travado o progresso humano, repugnam aos humanistas. Toda forma de discriminação, manifesta ou velada, é um motivo de denúncia para os humanistas.

Os humanistas não são violentos, mas acima de tudo não são covardes nem temem enfrentar a violência porque a sua ação tem sentido. Os humanistas conectam a sua vida pessoal com a vida social. Não levantam falsas antinomias e nisso radica a sua coerência.

Assim está traçada a linha divisória entre o Humanismo e o Anti-humanismo. O Humanismo põe à frente a questão do trabalho face ao grande capital; a da Democracia real frente à Democracia formal; a da descentralização frente à centralização; a da anti-discriminação frente à discriminação; a da liberdade frente à opressão; a do sentido da vida frente à resignação, à da cumplicidade e ao absurdo.

Porque o Humanismo se baseia na liberdade de escolha é que possui a única ética válida do momento atual. De igual modo, porque acredita na intenção e na liberdade, distingue entre o erro e a má fé, entre o equivocado e o traidor.

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