Um dos grupos que mais têm crescido nas séries do IBGE é o dos sem religião. Nos anos 60 era uma categoria residual, com apenas 0,5% da população. Mas, de lá para cá, experimentou um crescimento bastante significativo.
Pelos dados da POF (é metodologicamente temerário misturá-los aos do Censo), os sem religião somavam 5,1% em 2003 e 6,7% em 2009. São quase 13 milhões de pessoas.
Embora o grupo seja em geral identificado com ateus e agnósticos, trata-se de uma rubrica bem mais ampla, que inclui quem migra de uma fé para outra ou criou seu próprio "blend" de crenças. Em comum, têm apenas o fato de não pertencer a nenhuma instituição e não ter medo de dizê-lo em alto e bom som.
O trabalho de Marcelo Neri reforça a tese da heterogeneidade dos sem religião ao mostrar que eles crescem nos extremos do espectro social.
Entre os brasileiros com menos de três anos de instrução, os irreligiosos são 7,3% (contra 6,7% na população). Já entre as pessoas com 12 ou mais anos de estudo, o número vai a 7,5%. O detalhe instigante é que, quando se consideram apenas mestres e doutores, a cifra salta para surpreendentes 17,4%.
Essa distribuição é compatível com um perfil de sem religião no qual ateus e agnósticos preponderariam nas camadas mais instruídas e pessoas com uma religiosidade indefinida e desinstitucionalizada reforçariam os estratos de menor escolaridade.
A correlação entre hiperinstrução e ateísmo está bem documentada em diversos trabalhos de diferentes países. Já o maior trânsito religioso é mais comum entre os menos escolarizados.
Até onde os sem religião podem crescer é uma incógnita. Se o Brasil seguir um padrão próximo ao dos EUA, é razoável esperar que, nos próximos anos, o número se aproxime dos 15%. Se o modelo for mais próximo ao da Europa ocidental, aí as cifras podem exceder os 40%.
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