Os
geólogos Scott Bogue e Jonathan Glen do US Geological Survey acabam de
desenterrar novas evidências sobre ocorrências mudanças super-rápidas de
polaridade magnética da Terra.
Logo ao norte de uma parada de caminhões
ao longo da Interstate 80 em Battle Mountain, Nevada, os geólogos
encontraram evidências de uma época na história da
Terra em que seu
campo geomagnético enlouqueceu.
O que aconteceu afinal?
Fluxos
de Lava estudados em Nevada (Sheep Creek Range) fornecem novas
evidências de uma inversao geomagnética super-rápida que ocorreu há 15
milhões de anos.
O caos magnético há 15 milhões de anos
Minerais magnéticos encontrados em
rochas de 15 milhões anos atrás demonstram a história de uma época em
que o pólo norte magnético estava em pleno processo de migrar
rapidamente para o pólo sul e vice-versa. Os geólogos lembram que
semelhante “
inversão do campo geomagnético” é um fenômeno
normal natural na história da Terra que ocorre de forma imprevisível, em média a cada
200.000 anos. Além disso, o processo em geral leva em torno de
4.000
anos para completar a mudança. Paradoxalmente, as rochas de Nevada que
foram recentemente analisadas sugerem que esta mudança de 15 milhões de
anos atrás, em particular, ocorreu a um ritmo extraordinariamente
rápido.
Gráfico
que mostra as inversões de polaridade da Terra a o longo dos últimos
160 milhões de anos. Negro = polaridade normal, branco = polaridade
invertida. Fonte: Lowrie (1997)
Tal ocorreu em tamanha velocidade como
se você observasse uma bússola cujo norte variasse sua posição cerca de
um grau por semana, uma variação tão rápida que pode ser considerada
como ‘instantânea’ na escala de tempo geológico.
Na verdade este é o segundo relatório
científco sobre mudanças relativamente rápidas na direção geomagnética. O
primeiro, publicado em 1995 na Nature, “
New evidence for extraordinarily rapid change of the geomagnetic field during a reversal”
tomou como base as rochas em Steens Mountain, Oregon, mas nunca
alcançou ampla aceitação na comunidade de paleomagnetismo. Agora, um
segundo exemplo, permitirá reforçar a teoria de que as inversões podem
acontecer bem mais rapidamente do que as teorias correntes apontam, no
decorrer de anos ou séculos, em vez de milênios.
“Nós estamos tentando fazer que neste caso, o trabalho [novo] se torne outro registro de uma
mudança geomagnética super-rápida”, disse o autor Scott Bogue, um geólogo no Occidental College em Los Angeles.
Os pesquisadores não têm certeza das
razões porque o campo geomagnético ser inverte. Muitos pensam que deve
se relacionar com o que origina o campo magnético terrestre, os
movimentos de convecção no núcleo giratório externo do ferro líquido em
nosso planeta.
O movimento do pólo norte magnétido terrestre através do ártico no Canadá, de 1831 a 2001 (Geological Survey of Canada)
Novas evidências em Nevada
Bogue e seu colega Jonathan Glen do U.
S. Geological Survey em Menlo Park, Califórnia foram a Nevada (Sheep
Creek Range) para estudar uma série de fluxos de lava em bom estado de
preservação. Os fluxos de lava trazem informações importantes aos
geólogos, pois, quando cada fluxo esfria, este mantém a orientação do
campo magnético da época da história da Terra congelada, como uma
pequena agulha de uma bússola magnética encravada nos cristais da rocha.
Em outras palavras, os fluxos de lava conservam a assinatura da direção
do campo magnético terrestre ao longo do tempo.
Um fluxo em particular do sítio
geológico de Nevada chamou a atenção dos cientistas porque parece estar
relacionado a uma complexa história de mudanças geomagnéticas. Este
caminho de lava, disse Bogue, inicialmente começou a se esfriar e, em
seguida, foi reaquecida novamente em um ano conforme um fluxo de lava
fresca o sobrepôs. A lava fresca remagnetizou os cristais de rocha
abaixo, causando uma reorientação significativa de 53
graus. No ritmo em que deve ter arrefecido a lava (uma variação de 53
graus em 1 ano) tal significaria que o campo magnético foi mudando sua
direção a aproximadamente 1 grau por a semana, disse Bogue.
O que diz o estudo de 1995?
No estudo anterior publicado em abril de
1995, os cientistas R. S. Coe, M. Prévot e P. Camps relataram na
revista Nature que as rochas da
montanha Steens trazem
evidências de uma mudança de 6 graus por dia.
Este valor percentual foi considerado tão alto (imagine tentar navegar
com uma bússola que muda vários graus por dia) que na época muitos
cientistas se opuseram ao relatório de Coe e sua equipe. Uma linha de
raciocínio declarou que o núcleo externo líquido não pode simplesmente
suportar mudanças tão rápidas no campo magnético. Outros sustentam que,
mesmo se as mudanças tivessem efetivamente ocorrido, não seriam
observáveis na superfície, porque a condutividade elétrica interna da
Terra deveria ter blindado os sinais.
As rochas de Nevada reforçam a idéia de
que tais mudanças poderiam eventualmente estar em andamento agora, disse
Bogue, mesmo que os cientistas ainda não possam explicar as razões.
Controvérsias
Nem todos os especialistas estão
convencidos da certeza dos cenários apontados neste novo artigo. Dennis
Kent, paleomagnetólogo Universidade Rutgers, em Piscataway, Nova Jersey,
disse que seria “uma curiosa coincidência” de ter dois breves fluxos de
lava recém-esfriados e captar uma mudança na direção de 53 graus,
quando as inversões geomagnéticas ocorrem apenas algumas vezes a cada
milhão de anos.
As
variações no campo geomagnético no oeste dos Estados Unidos desde a
última inversão, há 780.000 anos. A linha pontilhada vertical indica o
valor crítico de intensidade baixo o qual Guyodo e Valet (1999)
consideram que têm tido lugar várias excursões direcionais.
Mas, ao contrário do divulgado nos canais apocalípticos ou pelos filmes-catástrofe da ficção científica,
ninguém deve se preocupar em acordar em uma manhã de caos geomagnético,
disse Bogue. “Para os geólogos inversão em si da polaridade é algo
quase instantâneo que altera uma característica global da Terra,
trata-se verdadeiramente de um fenômeno espetacular”, disse ele. “Mas se
você estiver vivo quando isso acontecer, provavelmente não vai perceber
grandes coisas.”
O artigo científico que descreve esta descoberta será publicado na revista “Geophysical Research Letters” assinado por S. W. Bogue et al. intitulado: “Very rapid geomagnetic field change recorded by the partial remagnetization of a lava flow”.
Fontes
- Science News: Geomagnetic field flip-flops in a flash por Alexandra Witze, 25 de setembro de 2010; Vol.178 #7 (página 10)
- Physorg.com: Evidence of second fast north-south pole flip found
- Nature: New evidence for extraordinarily rapid change of the geomagnetic field during a reversal, R. S. Coe, M. Prévot & P. Camps, Nature 374: 687 doi:10.1038/374687a0
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