A palavra Deus, para mim, é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana; a Bíblia, uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.

— Albert Einstein

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Uma definição e evidências da Teoria da Evolução de Darwin

Mão humana e os ossos da barbatana de uma baleia. Qualquer semelhança NÃO é mera coincidência
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Introdução

Não sei como pude relegar por tanto tempo um post sobre um dos pilares do ateísmo: a Teoria da Evolução de Charles Darwin, ou Darwinismo. Amplamente combatida pelos adeptos do criacionismo e do “design inteligente” (não tem como escreve isso sem aspas), as evidências desta teoria estão aí para quem quiser ver. Vale lembrar que o termo “teoria”, na ciência, não quer dizer “hipótese” ou “achismo” como alguns querem fazer acreditar. Para o mundo científico, uma teoria é um conjunto de fatos e ideias, ou seja, hipóteses que tenham evidências empíricas que melhor explicam o funcionamento da realidade. Por exemplo, temos a Teoria da Gravitação, que explica como a gravidade funciona.
O mais interessante é que a Teoria da Evolução não diz nada sobre como a vida surgiu, mas sim como ela evoluiu. Ainda assim, os criacionistas decidiram atacar a teoria que não leva “deus” em conta. Eles pregam que seu deus (não foi nenhum deus hindu, ou grego, ou sumério, ou egípcio. Foi o deus judaico-cristão, vale frisar) criou o homem do nada, por força do verbo. Se a Terra já existia ou não, isso não é importante no criacionismo. Apenas o fato de que o homem surgiu a menos de 10.000 anos atrás, de forma a validar as citações bíblicas.
No mundo real, em compensação, cientistas estudaram e teorizaram a respeito de como poderia ter ocorrido o surgimento da vida. Aleksandr I. Oparin, em 1936, sabendo quais elementos estavam presentes no momento de formação da Terra, elaborou o livro "A Origem da Vida". Com base nestas idéias, em 1953, Stanley L. Miller e Harold C. Urey da Universidade de Chicago fizeram uma experiência onde, simulando o ambiente da Terra no seu primórdio, conseguiram obter moléculas orgânicas, componentes básicos dos seres vivos de hoje.
Como se vê, o criacionismo deveria combater a biogênese do ponto de vista científico, não o evolucionismo. Mas em geral, os religiosos são pessoas ignorantes, ingênuas ou simplesmente manipuladores, e decidiram atacar em peso o darwinismo. A frente de ataques dos religiosos que briga contra o evolucionismo é o “Design Inteligente”, que clama por ser uma alternativa científica à Teoria da Evolução. Os adeptos do "Design Inteligente" acreditam que a vida é complexa demais para ser fruto do acaso. É claro que a comunidade de cientistas sérios não se permite aceitar o “design inteligente” como alternativa à Teoria da Evolução, já que o primeiro é apenas uma crença religiosa, não um trabalho científico.
Como é de se esperar, numa pesquisa feita no National Academy of Sciences, 72% dos cientistas NÃO acreditam em deus, e outros 20% são agnósticos, ou seja, apenas 7% acreditam em alguma divindade.
Com tantas evidências a favor, nem as igrejas refutam mais a Teoria da Evolução. A Igreja Anglicana pediu oficialmente perdão a Charles Darwin por ter repudiado, no século 19, sua Teoria da Evolução. O reverendo Malcolm Brown disse que a instituição deve desculpas ao cientista por não entender suas conclusões sobre o processo de seleção natural que move a evolução das espécies. No dia seguinte, um ministro do Vaticano reconheceu que o trabalho de Darwin não é incompatível com a Bíblia, mas descartou um pedido de desculpas póstumo ao cientista lembrando que a Igreja Católica "nunca condenou" o estudo.

O que a Teoria da Evolução NÃO é

Bem, antes de continuar, precisamos saber o que o evolucionismo NÃO é. Assim, já iremos evitar julgamentos equivocados por parte dos teístas que, em geral, não possuem instrução suficiente para falar sobre a teoria.

  • nós NÃO viemos do macaco. Temos um ancestral em comum, é verdade. Mas eles são uma espécie e nós outra;
  • a evolução NÃO prega a inexistência de um deus;
  • evolução em biologia é transformação progressiva, NÃO necessariamente para melhor. No meio científico, esta evolução é um fato. A teoria sobre como ela ocorre, esta sim, é alvo de discordâncias e debates;
  • os cientistas sérios não questionam exatamente a Teoria da Evolução, mas sim como ela ocorre. Na edição de fim de ano da revista Science, compilaram um conjunto de estudos representando os maiores feitos da Ciência em 2005. No foco do holofote, considerada o Avanço do Ano, estava a Teoria da Evolução. Num artigo intitulado Evolução em Ação, os editores revisitaram como as descobertas do ano propiciaram um maior entendimento dos mecanismos pelos quais novas espécies biológicas se originam e como elas abrem caminho para futuros progressos em medicina e saúde pública;
  • a evolução NÃO quer saber como surgiu a vida, muito menos o universo;
  • a evolução biológica NÃO tem nada a ver com termodinâmica. Qualquer tentativa de misturar as duas coisas é mera falácia;
  • a evolução NÃO é o mesmo que seleção natural. Uma espécie pode evoluir e transmutar-se em outra e tanto a original quanto a nova conviverem no mesmo habitat. Apenas quando as condições do habitat sofrerem alguma mudança radical, é que a seleção natural encarregar-se-á de eliminar os menos aptos;
  • a teoria da evolução NÃO é como um dogma bíblico. Como em todas as áreas da ciência, há sempre descobertas, revisões e correções. Isto não quer dizer que ela seja desacreditada por alguns cientistas. É parte de a ciência questionar a própria ciência. A teoria da evolução ainda é a melhor forma para explicar o processo evolutivo;
  • embora já tenham sido encontrados muitos fósseis com "espécies intermediárias", entre um ponto de evolução e outro, talvez não encontraremos todos os intermediários de todas as espécies, já que o processo de fossilização não é algo tão comum de ocorrer, tampouco é fácil achar fósseis. O que NÃO quer dizer que estas espécies intermediárias não possam ter existido;
  • mudanças pequenas e cumulativas, como prega a teoria, levam centenas ou milhares de gerações para ocorrer. Isso significa que nenhum ser humano conseguirá ver uma “mudança evolutiva” na maior parte das espécies. Para ver isso ocorrendo, por exemplo, cientistas cultivam bactérias que produzem milhares de gerações em um curto espaço de tempo. Salvo raras exceções, portanto, apenas em laboratório podemos ver o processo evolutivo em ação.

O que é a Teoria da Evolução

Posto o que a evolução NÃO é, precisamos saber o que ela realmente é, de acordo com o livro “Sobre A Origem das Espécies Através da Seleção Natural” de Charles Darwin. A teoria darwiniana da evolução pode ser resumida em alguns postulados simples:
(1) Os membros de qualquer população biológica em particular irão diferir entre si em pequenas particularidades e terão características ligeiramente diferentes de estrutura e comportamento. Este é o princípio da "variação".
(2) Estas variações podem ser passadas de uma geração para outra, e a prole daqueles que possuem um tipo particular de variação também tenderá a ter aquela mesma variação. Este é o princípio da "hereditariedade".
(3) Algumas destas variações darão ao seu possuidor uma vantagem na vida (ou escapar de alguma desvantagem ), permitindo que o organismo obtenha mais alimentos, fuja de predadores mais eficientemente, etc. Dessa forma, aqueles organismos que possuem uma variação útil tenderão a sobreviver por mais tempo e gerar mais descendentes que os outros membros daquela população. Estes descendentes, através do princípio da hereditariedade, também tenderão a possuir estas variações vantajosas, e isto terá o efeito de aumentar, sobre um número de gerações, a proporção de organismos na população que possui esta variação. Este é o princípio da "seleção natural".

A descoberta do DNA e a validação da Teoria da Evolução

Basicamente, a visão darwiniana tradicional sustenta que pequenas mudanças na estrutura de um ser vivo serão decisivas para sua sobrevivência quando as condições do meio em que vivem se modificar. Com a pressão do ambiente sobre os seres, ocorré uma seleção natural das variações mais bem adaptadas e isso irá produzir, após um longo período de tempo, organismos que diferem tão grandemente de seus ancestrais que eles não são mais o mesmo organismo, e devem ser classificados como uma espécie separada. Esta teoria foi tão bem fundamentada que descobertas posteriores só vieram a confirma-la. A descoberta do mecanismo biológico, o DNA, e as ciências que o estudam (campo das ciências genéticas) nos permitiram entender como a evolução ocorre no nível molecular.
Vamos explicar rapidamente o básico, passo-a-passo, de uma das principais formas pela qual a evolução ocorre de forma que qualquer um possa entender. Primeiramente, precisamos saber como funciona o protagonista desta história: o DNA. Abaixo, vemos algumas células do nosso corpo. Observe que cada uma delas possui um núcleo (neste caso, uma bola vermelha).
Célula
Dentro de cada um destes núcleos, ficam nossos cromossomos. Temos 23 cromossomos. Cada célula do corpo (exceto as do sangue e as reprodutivas) possuem 1 par de cada cromossomo, logo cada célula possui 46 cromossomos. Cada cromossomo possui um longo filamento de DNA dentro de si. O DNA é uma sequencia de nucleotídeos, que são pequeninas moléculas ligadas umas às outras na forma de uma dupla hélice. São elas: Adenina, Citosina, Guanina e Timina (representadas sempre pela letra que inicia seus nomes). Estes nucleotídeos se agrupam aos pares, chamados “pares de bases”.
Para se ter idéia da quantidade de moléculas em cada cromossomo, temos um total de 7 bilhões de nucleotídeos em cada célula (os gametas possuem a metade). O “cromossomo 1” possui, sozinho, 246 milhões de pares de bases. Se pegássemos todas as fileiras de DNA de todos os cromossomos e as esticássemos para formar apenas uma fileira de DNA, todos esses bilhões de nucleotídeos formariam um filamento de quase 2 metros (e lembre-se: tudo isso está “enrolado” dentro do núcleo de uma célula que é microscópica!).
Um trecho do DNA com uma sequência destes pares bases é chamada “gene”.
Os genes dizem como você será. Cor de pele, cor dos olhos, predisposição à doenças, se você será mais alto, mais magro, etc. Durante nossas vidas (inclusive quando estamos nos formando no ventre materno), cada uma das nossas trilhões de células se divide em duas. Como cada célula precisa ter todos os cromossomos em seu núcleo, durante esta divisão ocorre a duplicação de todos os cromossomos (e, logo, a duplicação de todos aqueles bilhões de nucleotídeos). “Como é de se esperar, pequenos erros nesta duplicação podem ocorrer. Mas o corpo só comete um erro a cada 10 bilhões de pares de bases, o que significa menos de um erro para cada três células duplicadas. É um sistema impressionante”, diz Stephen Bell, do Departamento de Biologia do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT).
Células deficientes são eliminadas pelo próprio corpo (embora, algumas resistam podendo acabar causando algumas doenças, como câncer). Mas alguns destes “erros” na duplicação não causam mal algum e se mantém. Ou, nas palavras do Dr. Willy Beçak, geneticista especializado em Genética Humana e Animal:
Como se sabe, todo material genético pode sofrer mutações espontâneas ou induzidas por fatores ambientais, como acontece com a exposição ao ozônio, aos raios ultravioleta, à fumaça dos ônibus. Quando são deletérias, ou o organismo elimina o produto indesejado, ou é eliminado por ele. A mutação vantajosa, ao contrário, se fixa no DNA. O resultado dessas mutações aditivas produz material genético sujeito à seleção e à evolução.
O mapeamento do genoma nos mostrou que grande quantidade desse material está sujeita continuadamente a mutações. Quando ocorrem nas células somáticas, acabam se expressando seletivamente no organismo; quando ocorrem nas células germinativas, que são os gametas, podem produzir indivíduos distintos, melhores ou piores, não importa.”
Mitose
(divisão celular vista pelo microscópio. No alto da imagem, cromossomos são duplicados. Ao final do processo, metade destes cromossomos são repartidos para a nova célula)
Mutação genética ocorrida no DNA após sua replicação
(durante esta divisão celular, podem ocorrer erros na duplicação do DNA. Alguns destes erros serão corrigidos, mas outros serão inofensivos e se tornarão permanentes, modificando a sequência genômica do portador. É a chamada mutação genética. Vale lembrar que estas alterações são aleatórias e incontroláveis. Nosso corpo não altera o DNA propositadamente, como se tivesse intenção de se aperfeiçoar)

No indivíduo que manifestou estas constantes alterações no DNA, estas modificações podem nunca aparecer. Mas se este ser vivo misturar seus genes com outro durante a procriação, alguns destes “erros” podem tornar-se uma característica do indivíduo que irá nascer (e ela poderá ser boa, ruim ou neutra). É a chamada recombinação genética, quando o código do DNA de seres distintos são misturados durante a reprodução sexuada.
Recombinação genética
(exemplo de um cross-over, ou seja, a modificação de cromossomos nos gametas, que são os espermatozóides e ovócitos. Estas modificações aumentam ainda mais as variações genéticas que serão transmitidas para os descendentes do portador dos gametas)
(e acima, o resultado improvável das cumulativas alterações genéticas ao longo das gerações. Um casal britânico de negros tornaram-se pais de Nmachi, uma loira de olhos azuis. Testes de paternidade confirmaram que ambos são pais da menina. “Este poderia ser um caso numa grande quantidade de misturas genéticas, como em populações afro-caribenhas. Mas na Nigéria, há pouca mistura”, disse o professor Bryan Sykes, diretor de Genética Humana da Universidade de Oxford. E ele conclui “As regras da genética são complexas e ainda não entendemos o que acontece em muitos casos.”)

Através de todos estes processos, ao longo do tempo, teremos uma grande variedade de características em diferentes seres vivos (mesmo aqueles da mesma espécie).
O homem mais alto do mundo posa para foto ao lado do mais baixo. Nos humanos, a altura deixou de ser um vantagem evolutiva, uma vez que eliminamos boa parte das pressões que levariam à seleção natural de indivíduos. Ainda assim, as mutações genéticas ao longo das gerações resultam em indivíduos com características que poderiam melhorar sua condição de sobrevivência em ambientes competitivos.
Michael Phelps não é um excelente nadador apenas graças ao intenso treino. Ele tem o corpo adaptado para os esportes aquáticos. Tem braços excepcionalmente compridos (com envergadura de 2,01 m) para uma altura de 1,93 metros, além de ter pernas curtas e pés com 29,8 cm aproximadamente, equivalente a calçados número 48. Se fôssemos povos que dependessem do nado para sobrevivência, ele seria um ser mais preparado, logo, mais apto a sobreviver e gerar descendentes.

Seleção Natural

Quando as condições em que os seres vivem sofrem alguma mudança, aquela variedade enorme de animais resultantes das incessantes mutações do DNA não conseguirá conviver por muito tempo. Esta seleção dos animais mais bem adaptados às condições do meio foi uma das brilhantes deduções de Charles Darwin e foi chamada de “Seleção Natural”. Esta teoria científica foi confirmada empiricamente após a morte de Darwin e iremos ilustrar como ela se dá.
Seleção Natural: apenas os animais mais bem adaptados sobrevivem
Há muito tempo, através de uma sucessão de mutações e recombinações de DNA, uma espécie antepassada da girafa apareceu na Terra. Adaptadas ao meio-ambiente da época, elas tinham altura suficiente para comer as folhas da árvore e, assim, procriar e gerar inúmeros descendentes.
Através de uma sucessão de mutações e recombinações de DNA, a espécie dominante deu origem a uma variação diferente. Lembram-se do homem mais alto do mundo? Aqui nasceu um exemplar de girafa mais alta que as demais. Como ela também conseguia acesso à comida, ela e as demais procriavam e geravam seus descendentes. Todas convivendo felizes e harmoniosamente.

Eis que acontece algum evento que muda as condições de vida na Terra. Pode ser uma mudança climática, pode ser a separação de continentes, pode ser uma catástrofe de proporções globais, etc. O fato é que o clima muda e, com isso, as formas de vida começam a se adaptar, mudando toda a cadeia alimentar.

No nosso caso, as árvores mais próximas ao chão morrem devido a uma mudança no clima. Aos poucos, apenas as árvores com folhas bem no topo sobrevivem. Lembram-se das variações da girafa que conviviam harmoniosamente juntas? Infelizmente isso não será mais possível. As variações de menor estatura não conseguem alcançar as folhagens que agora estão em árvores muito altas. Mas aquelas girafas que nasceram com pescoços maiores alimentam-se normalmente.

Nossa girafa de pescoço grande sobrevive, pois, consegue se alimentar. Suas parentes menos adaptadas ao novo meio, contudo, não tiveram a mesma sorte e morrem. Sem conseguir viver o suficiente para gerar descendentes, esta variação logo se extinguirá do planeta, sobrevivendo apenas a maior das girafas.

Adaptada às novas condições, a girafa maior se alimenta e se reproduz em maior número. Logo, ela será uma espécie adaptada e dominante no seu meio. Quando as condições mudarem novamente, o ciclo irá se iniciar e novamente apenas as mais bem adaptadas sobreviverão.
É partindo do princípio da seleção natural que podemos deduzir que todas as formas de vida se originaram de um único ser e partilham muito do material genético. E a evidência de que todas as formas de vida estão interligadas está nos genes. Por exemplo, cientistas australianos encontraram provas de relações muito mais estreitas do homem com o solo submarino, em um estudo que revela que as esponjas do mar compartilham quase 70% de genes com os humanos. A decodificação do genoma humano demonstrou que compartilhamos mais de 300 genes com as bactérias, 60 a 70% de genes com as plantas, 99,4% de genes com o chimpanzé e 99,99% de genes entre nós, humanos.
Curiosamente, a teoria nos traz um belo fato que é comum nas religiões: somos todos irmãos! Por isso é importante respeitar todas as formas de vida, viver harmoniosamente e aproveitar esta chance de viver nesta grande família que é o planeta Terra!

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