Allen
Telescope Array (ATA), Califórnia: O sistema de radiotelescópios ATA
entrou em operação em setembro de 2008 e foi testado pelo SETI no dia
10/09 quando foi apontado para a sonda New Horizons (que está a caminho
de Plutão) e capturou seu sinal de rádio com sucesso.
Dr. Seth Shostak, astrônomo e líder do programa de procura por vida extraterrestre inteligente, o SETI (
Search for Extraterrestrial Intelligence),
falou aqui sobre a impossibilidade de existir um “império galáctico” e
as formidáveis dificuldades de contato entre as possíveis civilizações
inteligentes da galáxia. Vamos ver a seguir o que pensa
Dr. Seth sobre esse tema…
Seth Shostak do programa SETI
O Universo é propenso a ter vida?
Durante anos os cientistas lutaram
contra um fato enigmático: o Universo parece ser extraordinariamente
adequado para a presença da vida. As suas propriedades físicas estão
perfeitamente ajustadas de modo a permitir a nossa existência. Estrelas,
planetas e o tipo ‘grudento’ de química que produz peixes, plantas e
seres humanos, tudo isto seria impossível se algumas das constantes
cósmicas fossem apenas ligeiramente diferentes.
Mundos isolados
Por outro lado, existe outra propriedade cosmológica igualmente importante: o Universo está construído de tal maneira que mantém o isolamento entre os mundos.
Aprendemos esta lição há pouco tempo. A
grande descoberta aconteceu em 1838 quando Friedrich Bessel venceu os
seus colegas, ávidos observadores via telescópicos, e tornou-se o
primeiro astrônomo a medir a distância da Terra a uma estrela, diferente
do Sol.
61 Cygni,
um sistema binário na nossa vizinhança, dista de nós em torno de 11
anos-luz. Para aqueles que são adeptos de modelos para comparação, pense
desta forma: se encolhêssemos o Sol até o tamanho de uma bola de tênis
de mesa e a colocássemos no tanque principal do Oceanário do Parque das
Nações em Lisboa,
61 Cygni seria outra bola ligeiramente menor perto de Gotemburgo, na Suécia.
As distâncias entre estrelas adjacentes
são medidas à escala de dezenas de bilhões de quilômetros. As distâncias
entre civilizações adjacentes, mesmo assumindo que existem muitas por
aí, são medidas à escala de milhares de bilhões de quilômetros –
centenas de anos-luz, para usar uma unidade mais fácil de entender. Note
que este número não muda muito se considerarmos o número estimado de
planetas com civilizações extraterrestres que pensamos que existam – a
distância de separação é praticamente a mesma se achamos que existam
dezenas de milhares de sociedades galácticas ou um milhão na nossa
galáxia…
Viagens interestelares relativísticas?
As distâncias interestelares são
enormes, gigantescas. Se a física do Universo tivesse sido diferente –
exemplo: se a constante gravitacional fosse menor – talvez as estrelas
tivessem nascido bem mais perto umas das outras, e uma viagem até aos
nossos vizinhos interestelares não teria seria nada mais que uma
entediante boléia de foguete, como um vôo transcontinental a bordo de um
avião. Para viajar de uma estrela para outra estrela próxima à
velocidade dos nossos melhores foguetes demoraria algo da ordem de
100.000 anos. Para qualquer civilização extraterrestre que tivesse
conseguido armazenar quantidades tão gigantescas de energia e
proteger-se devidamente contra a radiação, requisito absolutamente
necessário para um
vôo espacial relativista,
o tempo de viagem ainda assim seria medido em anos (se não para os
intrépidos viajantes, mas para aqueles que eles deixassem para trás à
seus comandantes).
O legado dos Romanos
O Império Romano em 117 DC atingiu sua extensão máxima (5.900.000 km²), após a conquista da Dácia, pelo imperador Trajano.
Isto tem algumas conseqüências óbvias
(que, extraordinariamente, sempre escaparam à atenção da maioria dos
escritores de Hollywood). Para começar, é melhor esquecer “impérios”
galácticos ou o termo agora politicamente-correto: “federações”. Há dois
mil anos, os Romanos ergueram um império que se estendia desde a
Península Ibérica até ao Iraque, com um raio de cerca de 2.000 km. Os
Romanos
conseguiram esta conquista extraordinária graças à sua excelente
organização logística e ao desenvolvimento da engenharia civil. Todas
aquelas estradas do império (para não falar do uso do Mediterrâneo)
permitiram-lhes mover as suas tropas a alguns quilômetros por hora. Até
os mais ermos cantos do Império Romano poderiam ser alcançados em alguns
meses ou menos, ou melhor, até cerca de 1% do tempo de vida do
legionário comum (digamos: cerca de 30 anos). Fazia sentido, na época,
levar a cabo campanhas desenhadas para manter coesa uma complexa e
extensa estrutura social, uma vez que para atingir quaisquer partes do
império era necessário até o máximo de
1% de uma vida (vamos fixar isto aqui: 1% de 30 anos ≈ 4 meses de viagem).
A expansão e declinio do Império Romano.
O que é raio de controle de comando?
No século XIX, os barcos a vapor e as
estradas de ferro aumentaram as velocidades de deslocamento dos
exércitos por um fator de dez, o que estendeu o raio de controle de comando
(a distância máxima na qual o comando central consegue administrar um
vasto império ou federação) por um valor similar. Assim, com essa
infraestrutura, os ingleses conseguiram governar e manter a hegemonia do
império britânico controlando colônias espalhadas pelo globo terrestre.
Como construir ‘federações galácticas’ e manter o controle de comando?
Mas aqui, quando falamos de distâncias
galácticas, é que o assunto muda radicalmente de figura. Mesmo que
conseguíssemos mover pessoas e recursos quase que à velocidade da luz
(uma capacidade impossível, tanto agora quanto para se atingir em futuro
próximo), esta “regra de 1% da vida” ainda limitaria a nossa capacidade de intervir efetivamente – o nosso raio de controle de comando
– a distâncias inferiores a um ano-luz (na verdade: 4 meses-luz, para
sermos fiel ao modelo sugerido acima). Mas, 4 meses-luz é
consideravelmente muito menor – um décimo – que a distância entre o Sol e
a sua estrela mais próxima (a anã-vermelha Próxima Centauri, que fica a
≈ 4,22 anos-luz da Terra). Conseqüentemente, a suposta “Federação
Galáctica” será sempre apenas uma bela ficção (como se já não
soubéssemos disso…). Sendo assim, por exemplo, mesmo que fossemos
avisados (uma capacidade de comunicação também impossível de ser
atingida como veremos abaixo) que uma civilização extraterrestre
belicosa estaria prestes a disseminar o caos e a destruição em nossas
colônias no Braço Galáctico de Perseus, não poderíamos reagir
rápido o suficiente para mudar o resultado do conflito. E as nossas
tropas locais de resistência há muito que já teriam sido dizimadas antes
que o reforço da federação alcançasse as linhas da frente do combate.
Em outras palavras, quaisquer formas de
vida inteligente extraterrestre que possam existir por aí muito
provavelmente não chegarão a tomar conhecimento sobre a existência de
outras.
Capacidade limitada de comunicação
Um argumento semelhante e ainda mais
forte pode ser aplicado às capacidades de comunicação dentro de um
império de larga escala. As trocas de informação no passado demoravam
vários meses (uma carta por mar, por exemplo). Genericamente falando,
regularmente começamos qualquer projeto de grande porte bem-definido com
a duração de mais que duas ou três gerações. Os construtores de
catedrais medievais estavam dispostos a gastar esse tempo para completar
os seus edifícios góticos. Aqueles que enterram “cápsulas do tempo”
estão ocasionalmente dispostos a deixar passar séculos antes que os seus
conteúdos sejam desenterrados. Mas, então o que dizer de um projeto que
demore vários séculos, ou até milênios? Quem afinal é que está disposto
a fazer tal empreitada?
Epsilon Eridani b
Exemplificando: vejamos aqui um cenário para mostrar a importância da comunicação. Vamos supor que nós terráqueos consigamos estabelecer em Epsilon Eridani, uma estrela irmã jovem do Sol, uma anã-laranja da classe K, que dista apenas 10,5
anos-luz da Terra, uma colônia promissora. A colônia consegue se
estabelecer com sucesso e reporta a Terra periodicamente os relatórios e
notícias sobre os fatos relevantes. As informações levam 10 anos e meio
(!) para chegar a Terra, mas o processo unidirecional de envio de dados
pelo espaço tem funcionado com sucesso. Assim, suponhamos que algum
tempo depois ocorra um problema gravíssimo com os simpáticos colonos que
para solucionar a colônia necessite de uma intervenção da Terra… a
solicitação de ajuda levará 10 anos e meio para chegar ao governo na
Terra. Como ajudar nossos companheiros em Epsilon Eridani,
então? Impossível! E se por outro lado a colônia decidir ‘se rebelar’ e
cortar as comunicações com o governo da Terra? O governo ‘imperial
central’ levará 10 ½ anos para notar a falta de comunicação e mais
algumas décadas para descobrir o que aconteceu (uma tragédia repentina?
uma extinção em massa? o que houve afinal?), reagir e ‘retomar o
poder’.
Chegamos aqui a uma conclusão incontestável:
um controle imperial galáctico humano ou uma federação multi-estelar de
terráqueos será sempre impossível tecnicamente. Se a colonização e
exploração de outros sistemas solares se tornar realidade no futuro,
cada sistema terá seu governo próprio e independente sem qualquer
vínculo com os governos de outros sistemas. Governar e controlar
efetivamente só será viável dentro do seu próprio sistema solar.
Busca por sinais da vida inteligente extraterrestre (SETI)
Claramente, estas simples observações
têm que ter implicações para organizações que se dedicam à pesquisa de
sinais de vida inteligente no espaço, como o famoso programa de procura
por vida extraterrestre inteligente, o SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence).
O programa SETI busca identificar e processar supostas transmissões que
vêm de fora do nosso sistema Solar. Essas mensagens de civilizações
extraterrestres terão que viajar durante centenas ou milhares de anos
para chegar até nós. Em particular, se existirem sinais a serem
espalhados pela Galáxia com os mesmos propósitos que o SETI (entrar em
contato), então:
- Estes extraterrestres têm uma esperança de vida muito maior que a
nossa, o que (se você é um fã da inteligência artificial) implica o fato
de provavelmente não serem biológicos.
- Ainda nos faltam conhecimentos importantes de Física, que nos
permitiriam comunicar mais rapidamente que a luz, e estes esforços de
comunicação extraterrestre não incluem o envio de luz ou ondas de rádio
pelo espaço, mas algo bastante mais poderoso e avançado
tecnologicamente, algo que a nossa civilização não consegue [ainda (?)]
receber.
Muitos leitores irão, talvez num sentido
de perversidade afetiva, escolher a segunda hipótese. Talvez tenham
razão, mas isso desafia tudo o que sabemos sobre Física. Além disso, o
que sabemos contraria frontalmente algo digno de se falar em um jantar
entre amigos – algo simples como: as escalas de tempo para as viagens e
comunicações interestelares são imensamente longas para uma fácil (e
viável) interação entre seres cujo tempo de vida deve ser como o nosso,
de apenas um século ou menos. Por isso, enquanto o Cosmos pode
facilmente estar polvilhado de vida inteligente – como nos indica a
arquitetura universal e não uma fictícia “Diretiva Federal Universal”
(como em ‘Star-Trek’ – ‘Jornada nas Estrelas’) para assegurar uma
preciosa e diminuta interferência entre uma cultura e outra(s).
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