domingo, 7 de outubro de 2012
Ciência e fé: realidades paralelas.
No perene
debate entre a ciência e a religião, algo que costuma irritar os
cientistas, ao menos aqueles que se consideram ateus, é a insistência
dos que têm fé em acreditar numa realidade paralela, inacessível à
razão. Vejamos isso num diálogo fictício entre um cientista ateu e uma
pessoa de fé bem versada nos avanços da ciência.
Cientista: "Uma
causa sobrenatural não faz sentido: se for sobrenatural, isto é, além
dos limites do espaço e do tempo, das leis da natureza, do material,
como podemos saber da sua existência?
Afinal, o que
existe tem de ser detectado. Caso contrário, essa existência é uma
fabricação, uma fantasia. Pior ainda, se essa causa se manifestar
naturalmente, através de uma 'visão' ou de um fenômeno qualquer, vira
uma causa natural, que pode ser estudada pelos métodos da ciência. Ou
seja, se algum deus existe, é impossível saber da sua existência de
forma concreta. E não existe outra forma de saber".
Pessoa de fé: "A coisa não é assim tão simples, preto ou branco, existe ou não existe.
Entendo que,
dentro do método científico, algo precisa ser detectável para que se
comprove que é real. Ninguém sabia da existência de Urano até sua
detecção por William Herschel em 1781. Mas, antes da detecção, Urano
existia ou não? Claro que sim, mesmo que não soubéssemos disso. A
ciência não pode determinar com firmeza o que não existe, apenas o que
existe".
Cientista: "Mas
você não pode, não deveria, comparar Deus a um objeto celeste. Pelo que
entendo, Sua existência não passa pelas leis da natureza. Se passasse,
Deus seria um fenômeno natural e deixaria de ter essa transcendência de
que vocês tanto gostam e que ajuda a crença. Se Deus se 'esconde' numa
realidade paralela, jamais fará parte do cânone da ciência".
Pessoa de fé:
"Sem dúvida, Deus jamais fará parte do cânone da ciência. Esse é o seu
problema, tudo tem de ser parte desse cânone. E eu já não penso assim.
Existem coisas
que estão além da ciência, coisas que a ciência não tem como e nem
deveria tentar explicar. A ciência tem um método bastante claro de
estudo, separando o objeto a ser estudado do todo. Esse método supõe que
a separação pode ser feita. Isso funciona muito bem no laboratório, ou
quando um astrônomo observa uma galáxia.
Mas como
explicar, por exemplo, o Universo como um todo, a questão da origem de
tudo? Como olhar para o Universo como um objeto de estudo, se não
podemos sair dele?".
Cientista:
"Esse é o problema mais complicado, que os filósofos gostam de chamar de
Primeira Causa, e os físicos, de 'condições iniciais'. Verdade, temos
sempre de supor um contexto para oferecer uma explicação. Não temos
ainda uma lei que explique como selecionar uma condição inicial dentre
as várias possíveis. Mas nem por isso devemos supor que a explicação é
sobrenatural, obra de uma entidade que não podemos saber se existe. Que
tipo de explicação é essa?".
Pessoa de fé: "Essa é a explicação pela fé, além da ciência".
Cientista: "Eu prefiro continuar tentando entender do meu jeito".
Pessoa de fé: "Boa sorte, que Deus te inspire".
Cientista: "Eu prefiro me inspirar sozinho mesmo".
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