A palavra Deus, para mim, é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana; a Bíblia, uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis.

— Albert Einstein

sábado, 22 de outubro de 2011

Especialistas planejam a defesa planetária contra um asteroide



É bastante pequeno – as últimas observações indicam que mede cerca de 270 metros -, mas o asteróide Apofis poderia causar uma catástrofe de grandes proporções e conseguiu galvanizar os esforços de cientistas e engenheiros de muitos países para defender a Terra das ameaças que vêm do espaço.
Ouvindo-os no Congresso de Defesa Planetária, que reuniu 180 deles em Granada (sul da Espanha), pode parecer que se preparam para uma guerra: falam de ameaças, de que há muitos inimigos lá fora e da necessidade de que os seres humanos tomem consciência do risco constante a que estão submetidos.
Mas basicamente demonstram o nascimento e rápido desenvolvimento de uma nova área de pesquisa, especialmente adequada para a cooperação internacional, que busca seu lugar entre as ciências espaciais. O astronauta espanhol Pedro Duque diz claramente: “É uma nova era; o risco é real e agora é mensurável, e temos a tecnologia para detectá-lo e tentar evitar suas consequências”.
O Apofis, descoberto em 2004, se aproximará muito da Terra daqui a 20 anos, em 13 de abril de 2029, mas por enquanto o risco de impacto dessa aproximação é nulo. No entanto, como passará na altura da órbita geoestacionária (36 mil km, menos de um décimo da distância da Lua), teme-se que a perturbação gravitacional o situe então em rota de colisão com nosso planeta em 13 de abril de 2036.
A probabilidade de colisão é de 1 para 45 mil e há muitos fatores pouco conhecidos para se afirmar alguma coisa, mas mesmo que passe ao largo em 2036, como seguramente o fará, o Apofis já é o asteroide mais acompanhado e estudado da história, o catalisador de esforços internacionais sem precedentes para se enfrentar as ameaças espaciais.
A pedido do Congresso dos EUA, a Nasa tentou detectar os asteroides potencialmente perigosos (que se aproximam da Terra) de mais de um quilômetro de diâmetro, e após dez anos dá o trabalho praticamente por terminado. Agora os especialistas indicam que chega a hora de detectar os maiores de 140 metros, que, como o Apofis (único dos mais de mil asteroides potencialmente perigosos detectados que apresentam um risco apreciável de impacto), também podem causar muito dano.
No entanto, Don Yeomans, encarregado da questão na Nasa, explica que há pouco dinheiro para fazer isso e que é necessária a cooperação internacional. São da mesma opinião o astrofísico Rafael Rodrigo, presidente do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), e Jean-Michel Contant, da Academia Internacional de Astronáutica, também presentes no congresso.
O Apofis está hoje perto demais do Sol para ser observado. Segundo Jon Giorgini, do Laboratório de Propulsão a Jato, as observações ópticas poderão ser retomadas no final de 2010 e as de radar em 2013, mas é muito possível que não se consiga saber a probabilidade de impacto para 2036 até que chegue 2029, quando o asteroide será visível da Terra sem instrumentos. Então se conhecerá sua massa, sua velocidade de rotação, sua forma e suas características técnicas, e será possível avaliar a influência em sua trajetória de sua passagem pela Terra. Resta muito tempo, e mudanças físicas muito pequenas podem produzir mudanças muito grandes no mundo, lembra Giorgini.
Prever aproximações perigosas como a do Apofis é só o primeiro passo. Os especialistas indicam a necessidade de ter missões espaciais preparadas para tentar desviar os asteroides. Estão divididos sobre a conveniência de se utilizar a energia nuclear, mas é uma opção.
“Há três tipos de missões possíveis, sempre para empurrar o asteroide e desviá-lo, e não para destruí-lo, o que seria ainda pior”, explica Duque. São uma explosão nuclear próxima, um veículo que o empurre (trator gravitacional) e um impacto direto. Desse último tipo é o Projeto Don Quijote da Agência Espacial Europeia (ESA na sigla em inglês), ainda sem financiamento.
Na Deimos, a empresa espanhola que concebeu o Don Quijote, o estão adaptando para mandar um orbitador a Apofis, uma sonda que se aproximará e será colocada em órbita dele para conhecer melhor sua trajetória e outras características. “Poderia sair em 2015 e chegar em 2017, explica o responsável, Juan Luis Cano. Se a ESA aprovar a missão, seria de demonstração tecnológica mais que científica e deveria ter um custo baixo. Por enquanto não flui o dinheiro que os especialistas espaciais consideram necessário, mas esperam que na medida em que o Apofis se aproximar aumente a consciência social e política e se possam fazer inclusive missões de demonstração a outros asteroides não perigosos.
O ruim é que seja tarde demais. Também para isso se preparam os cientistas. Calculam as consequências dos impactos de asteroides de diversos tamanhos e concluem que mesmo um pequeno (entre 30 e 50 m de diâmetro, como o de Tunguska, na Sibéria) poderia destruir uma cidade, mas que se algum de tamanho maior cair no oceano o tsunâmi resultante teria consequências muito piores.
Fonte: El Pais

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