Olho vivo nos asteróides!
Rusty Schweickart tem se preocupado com as possíveis conseqüências de um impacto de pequeno asteróide, lembrando-nos do evento de
Tunguska
de 1908, onde 800 quilômetros quadrados da floresta siberiana foram
arrasados em um tipo de ataque espacial que pode ocorrer a cada 200/300
anos.
Se nós possuirmos um sistema de detecção e um sistema de deflexão poderemos evitar o mesmo trágico destino. Os observatórios profissionais
(e alguns amadores) e os radares já funcionam como um sistema de alerta
precoce nascente, trabalhando todas as noites para descobrir e rastrear
os assassinos do nosso planeta. Felizmente, sabemos até agora que nenhum dos 903 objetos encontrados até agora representa alguma ameaça séria de impacto nos próximos 100 anos.
Embora
os impactos catastróficos sejam relativamente raros, estima-se que há
suficientes objetos que podem estar se dirigindo para o nosso caminho e
tal nos obriga a tomar decisões sobre possíveis ações de deflexão a cada
década.
A capacidade de deflexão de objetos perigosos é algo que a NASA deveria estar olhando com atenção e o
relatório da Força-Tarefa em Defesa Planetária
solicita com urgência a concessão de verbas adicionais ao orçamento da
NASA. Schweickart recomenda a alocação de um orçamento entre 250 a 300
milhões de US$, acrescentado anualmente a verba da NASA durante os
próximos dez anos, que permitiria tanto concluir o levantamento dos
asteróides próximos à Terra (NEO) quanto desenvolver a habilidade de
defletir os que futuramente apresentem potencial real de perigo. Após 10
anos seria criado um orçamento de manutenção (50 a 75 milhões de US$
por ano), o suficiente para manter-nos alertas quanto a possíveis novas
ações.
Impacto na camada de ozônio
Agora, o notável trabalho de Elisabetta
Pierazzo (Planetary Science Institute) e equipe sublinha a necessidade
da capacidade de deflexão de asteróides. O artigo “Ozone perturbation
from medium-size asteroid impacts in the ocean”, publicado em
Earth and Planetary Science Letters, [referência:
Earth and Planetary Science Letters DOI: 10.1016/j.epsl.2010.08.036 ], se concentra em dois cenários básicos de impacto: asteróides com
500 metros e com
1 quilômetro de diâmetro colidindo com uma região do oceano com
4
km de profundidade. Pierazzo adverte que um impacto oceânico poderia
empobrecer significativamente a camada de ozônio protetora por vários
anos, resultando em um aumento nos níveis de radiação ultravioleta que
tornaria mais difícil para o cultivo de alimentos vegetais (além dos
efeitos catastróficos sobre outras formas de vida formas).
Ao cair no oceano o asteróide vai criar mais buracos e problemas do que uma singela cratera...
As simulações atmosféricas criadas por
Pierazzo e sua equipe mostram a perturbação global da química da
atmosfera superior, que ocorrem quando o vapor de água e os íons de
cloro e
brometo alteram a camada protetora de ozônio para criar um novo buraco (
Ozone Hole). Pierazzo afirmou:
A
remoção de um volume significativo de ozônio presente na alta atmosfera
por um longo período de tempo pode ocasionar importantes repercussões
biológicas na superfície da Terra como conseqüência do aumento na
radiação UV-B. Os danos incluem o aumento da incidência do eritema
(vermelhidão da pele) e da catarata cortical, mudanças na taxa de
crescimento dos vegetais e alterações (mutações) no DNA molecular dos seres vivos expostos.
A intensidade da radiação ultravioleta
pode ser expressa pelo índice ultravioleta (IUV), que indica a
intensidade da radiação UV na superfície. Os números mais elevados
representam níveis onde surgem danos à pele e aos olhos. Enquanto o IUV
nível 10 é considerado perigoso para a população,
resultando em queimaduras para as pessoas de pele clara, após a
exposição a curto prazo, valores com um maior grau (até 18)
são ocasionalmente registrados em latitudes equatorianas. O maior valor
de IUV já registrado chegou a 20, medido na mais alta altitude no
deserto em Puna de Atacama, Argentina.
A
camada de ozônio filtra os raios ultravioleta, atuando principalmente
nos raios UV-B (comprimento de onda de 280 a 315 nanômetros). Crédito:
theozonehole.com
Baseando-se no impacto real de um
asteróide que atingiu a latitude 30 graus norte, no Oceano Pacífico em
janeiro de 2010, as simulações de Pierazzo e equipe demonstraram que um
impacto de asteróide com 500 metros de diâmetro resultaria num significativo buraco na camada de ozônio, aumentando os valores do IUV para mais de 20 durante vários meses nas regiões subtropicais do hemisfério norte.
Muito pior ainda é o outro cenário: a queda de um asteróide de 1 km de diâmetro levaria o IUV em determinadas áreas para o crepitante nível 56, ao mesmo tempo aumentando os valores do IUV em mais de 20
pontos dentro de uma faixa de latitudes de 50° tanto para o norte
quanto para o sul do equador durante cerca de dois anos. Assim, a faixa
afetada pelo incidente no hemisfério norte incluiria tanto Seattle
quanto Paris, enquanto que no extremo sul chegaria à Nova Zelândia e
Argentina.
“Um nível de 56 nunca
foi registrado antes, então não temos conhecimento experimental do
impacto que isto pode gerar”, acrescentou Pierazzo. “Certamente iria
produzir queimaduras solares muito graves. Nós até poderíamos permanecer
abrigados e nos proteger, mas se você sair ao Sol e se expor a luz do
dia certamente você iria se queimar. Teríamos que sair somente à noite,
após o pôr do sol, para evitar maiores danos.”
Animação
mostra um levantamento da extensão do buraco na camada de ozônio
existente no pólo Sul, nos meses de setembro e outubro de 2006. Crédito:
theozonehole.com
Nós temos sempre a tendência de
representar impactos de asteróides em termos de suas piores
conseqüências, como forma de ilustrar a magnitude da ameaça. Mas é
frustrante aprendermos que mesmo um impacto superável, como demonstrado
nos cenários modelados por Pierazzo e equipe, causaria sérios danos
ambientais, mesmo que a perda de vidas humanas não aconteça. Tudo isso
pressupõe, também, que o asteróide caia no oceano (na verdade, o cenário
mais provável, 2 em cada 3 casos caem efetivamente nos mares). Não há
dúvida de que a construção da defesa planetária contra esses impactos é o
melhor seguro para o nosso planeta que nós poderíamos criar, reduzindo o
risco de potenciais impactos antes que os objetos perigosos se
aproximem do nosso planeta.
Fontes
- Centauri Dreams: Ocean Impacts and Their Consequences
- SpacePolicyOnLine.com: Report of the NASA Advisory Council (Ad Hoc Task Force on Planetary Defense)
- NYTimes: Humans to Asteroids: Watch Out! por Rusty Schweickart
- Nature: NASA to lead global asteroid response
- LiveScience: Asteroid Strike Could Force Humans into Twilight Existence por Jeremy Hsu
- The Ozone Hole
- New Scientist: Ocean asteroid hits will create huge ozone holes por Rachel Courtland
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